Reportagem publicada na revista EmbalagemMarca 2-2021
Quem vem acompanhando os lançamentos do setor de higiene pessoal e cosméticos nos últimos anos já se acostumou com a multiplicação dos tubos plásticos flexíveis – as populares bisnagas – nos portfólios das mais diferentes marcas. O avanço se deu em duas frentes. De um lado, com embalagens extrudadas, primordialmente produzidas com polietileno. De outro, com bisnagas laminadas, que podem se aproveitar dessa tecnologia e possibilitar a combinação de materiais para garantir maior proteção à formulação ou simplesmente para explorar aspectos estéticos mais sofisticados.
Com vendas sempre crescentes, esse setor registra continuamente avanços técnicos, o que às vezes torna difícil a identificação de grandes eventos marcantes que registrem pontos de ruptura em termos de tecnologia. Mas eles ocorrem. Só que a frequência acelerada com que os lançamentos de produtos acontecem faz com que os aprimoramentos passem quase despercebidos para quem não os monitora no dia a dia.
Por isso, EmbalagemMarca traz nesta reportagem movimentações recentes na área de bisnagas – tanto extrudadas quanto laminadas, que a despeito das diferenças que guardam entre si, em aspectos técnicos e na forma de fabricação, fazem parte de universos cada vez mais próximos no que se refere às soluções trazidas para os donos de marca.
“Há uma migração de frascos para bisnagas porque em vez de precisar lidar com diferentes fornecedores para embalagem, tampa, rótulo e selo de vedação, o cliente pode centralizar tudo num único provedor, o que traz grandes vantagens na gestão do processo de compras”, afirma Hernane Henrique, diretor comercial e de marketing da C-Pack, nome forte entre os fornecedores de tubos extrudados. “Além disso, as bisnagas consomem menos resina que os frascos, trazendo benefícios ambientais e de custo.”
Ajuda a explicar o avanço dos tubos flexíveis, também, o aprimoramento visual que os fabricantes vêm disponibilizando a seus clientes. A própria C-Pack é um bom exemplo. A empresa opera sete linhas de produção em sua fábrica situada em São José (SC), com uma delas inteiramente dedicada a uma nova tecnologia, inédita no mundo, e sobre a qual a C-Pack tem exclusividade na América Latina, que possibilita a decoração das bisnagas utilizando impressão flexográfica, com considerável ganho na qualidade gráfica em relação à decoração com dry-offset. O alvo, naturalmente, é a indústria de cosméticos.
Nessa linha, a impressão é realizada de forma plana sobre um filme, em etapa independente da extrusão, em uma impressora instalada na C-Pack, com o objetivo de aumentar o controle e reduzir o lead time do processo. O filme já impresso é, então, unido à embalagem. A barreira contra gases (EVOH) é parte do próprio filme, e não precisa ser incorporada ao corpo da bisnaga, simplificando o processo.
A nova tecnologia, segundo Hernane, traz aos clientes todas as possibilidades de acabamentos diferenciados que a flexografia oferece. “Essa solução viabiliza a reprodução de artes sofisticadas, ricas em detalhes, e ainda permite otimização no uso de masterbatches no corpo das bisnagas”, completa ele.
Outra possibilidade desse sistema é a impressão sobre substratos metalizados, aproximando visualmente as bisnagas das alternativas laminadas – “com a vantagem de que elas podem ser recicladas normalmente, conforme certificados emitidos pelo Cetea”, completa Henrique. Marcas renomadas e internacionais já adotaram a tecnologia em lançamentos recentes, segundo o executivo da C-Pack.
A se tomar pelas movimentações dos fornecedores de tubos laminados, a briga deve ser boa. “Estamos validando, em nossa planta de Mogi das Cruzes (SP), uma tecnologia que chamamos de Reflex, que consiste na produção de bisnagas laminadas com efeito metálico, mas sem a camada de alumínio, e com a possibilidade de incorporar barreira de EVOH”, explica Renato Wakimoto, diretor de inovação e desenvolvimento de produtos da empresa, ressaltando que a novidade poderá ser reciclada na cadeia de PE e PP. As bisnagas dessa linha estarão disponíveis, por enquanto, nos diâmetros de 35mm e 50mm, que são os mesmos atendidos pela nova tecnologia da C-Pack.
Na mesma direção, também está em testes na planta de Mogi das Cruzes da Silgan a linha de bisnagas Greenleaf, produzidas a partir de laminados plásticos mais leves, sem perda de rigidez e garantindo grande proteção à formulação. Com opções de parede branca (220μm, 250μm e 330μm) e transparente (330μm), e diâmetros de 28mm, 35mm e 50mm, esses tubos também podem incorporar camada de EVOH, e são recicláveis na cadeia do PEAD. “Nosso portfólio vem crescendo com itens que têm a sustentabilidade como pilar importante”, afirma Wakimoto, usando como exemplo a linha produzida com PE Verde e os tubos monomaterial (com tampa, ombro e corpo produzidos com PE) já ofertados pela companhia.
Wakimoto confirma, ainda, que a Silgan Dispensing investiu recentemente em uma nova impressora flexográfica capaz de imprimir sete cores, dois tipos de vernizes e mais uma estação de decoração (cold foil/silkscreen). “Com os recentes avanços tecnológicos na produção de tubos laminados, hoje asseguramos uma qualidade de impressão e acabamento muito superior em comparação a outras tecnologias existentes. Garantimos alta proteção às formulações, soldagem quase imperceptível e pleno alinhamento aos nossos compromissos socioambientais com nossas bisnagas 100% recicláveis.”
A possibilidade de ofertar embalagens com elevada qualidade visual e múltiplas opções de acabamentos foi justamente o que, há cerca de dois anos, credenciou o início das atividades de um novo participante no mercado brasileiro de bisnagas laminadas.: a CCL Industries. Conhecida por sua proeminente atuação no setor de rótulos, a empresa já fabricava bisnagas em outros países, e vem conquistando clientes no mercado brasileiro graças à sua expertise em impressão e ao relacionamento de longa data com as marcas da indústria da beleza. A possibilidade de trabalhar tubos e rótulos com as mesmas tecnologias, viabilizando campanhas com linguagem padronizada para as marcas em diferentes tipos de embalagem, é um dos argumentos da empresa para avançar nesse mercado.
Segundo a CCL informou à reportagem, o uso de todo o conhecimento acumulado com rótulos e a extensa diversidade de tecnologias disponíveis em seu parque industrial permitem oferecer recursos “praticamente ilimitados” de decoração, atendendo desde pequenos lotes até grandes tiragens, oferecendo bisnagas que podem ser decoradas desde o ombro até o mordente. Esse amplo repertório é propiciado pela possibilidade de combinar diferentes sistemas de impressão (offset, flexografia, rotogravura, serigrafia e digital) e opções de acabamento (como vernizes brilho, fosco, soft touch e especial, aplicação de braile e inclusão de holografias), com solda invisível.
Os próximos capítulos dos desenvolvimentos deste setor já estão sendo escritos. Um movimento importante (e inevitável) é o reaproveitamento de resíduos pós-consumo na fabricação das embalagens, já visto em projetos como o da Bergamia, uma das vencedoras do Prêmio Grandes Cases de Embalagem em 2020. A empresa utilizou embalagens produzidas com resina reciclada pós-consumo (PCR) para manter o alinhamento com o propósito da marca de atuar com produtos naturais em sua formulação, minimizando o impacto ambiental de sua atividade. As embalagens foram produzidas pela Globoplast, outra empresa relevante no fornecimento de tubos flexíveis extrudados.
“Já homologamos e produzimos o plástico pós-consumo em bisnagas monocamada e nas tampas de polipropileno”, conta Evandro Assoni, gerente comercial da empresa. “O nosso próximo desafio será finalizarmos o projeto de utilização desse tipo de resina reciclada em bisnagas coextrudadas, que resultará em um produto com melhor acabamento externo e sem contato do PCR com o produto envasado.” A empresa afirma ter implantado outras iniciativas em direção à redução de impactos ambientais em sua planta industrial, retornando, por exemplo, 100% das aparas descontaminadas para seu processo produtivo – as sobras que já passaram pelo processo de impressão são coletadas por empresas terceirizadas e transformadas em outros itens, como vasos e baldes.