Recurso que dá aparência e textura de kraft
a embalagens flexíveis é uma amostra de
como é possível inovar sem reinventar a roda
Por Guilherme Kamio*
Geralmente por meio de suas assessorias de imprensa, fabricantes de bens de consumo costumam nos enviar amostras de lançamentos. É um recurso importante, pois nos ajuda a constatar atributos das embalagens nem sempre assinalados nos comunicados à imprensa – ou nem sempre assimiláveis pelas imagens de divulgação. Uma recente remessa possibilitou-me notar, por exemplo, um recurso interessante adotado pelo Grupo Bimbo na apresentação de uma nova linha de pães das marcas Pullman e Plus Vita, a Sabor de Padaria.
Nos sacos que acondicionam os produtos, feitos de polietileno transparente, a face principal traz um desenho em formato de flâmula que parece composto por papel kraft (pardo). Não é uma laminação. Trata-se de uma combinação de impressão e aplicação de verniz fosco que dá ao substrato aparência e textura do material celulósico.
Sabor de Padaria, do Grupo Bimbo: área que simula kraft, em formato de flâmula, procura contribuir com percepção de produto artesanal
No caso de Sabor de Padaria, o acabamento à kraft resulta de uma integração entre a a10, agência responsável pelo design gráfico, e a Incoplast, encarregada da impressão das embalagens. Segundo o Grupo Bimbo, o recurso ajuda a transmitir o apelo artesanal dos produtos, que seguiriam receitas caseiras.
Não é a primeira vez que tal artifício me chama a atenção. Algo similar já fora visto em embalagens do Café Pilão que ficaram no mercado entre meados de 2012 e meados de 2014, desenhadas pela Benchmark Design* e viabilizadas com tecnologia desenvolvida pela Bemis. A DE Master Blenders, dona de Pilão, diz que abdicou daquelas embalagens em prol da implantação de um visual “mais alinhado ao posicionamento estratégico da marca”, dedicado a fortalecer uma identidade moderna.
Embalagens do Café Pilão tiveram o recurso entre 2012 e 2014
Fiquei surpreso com a troca das embalagens de café, pois havia achado fantásticas aquelas com simulação de papel pardo. Gerente de projetos da Embalagens Flexíveis Diadema, empresa que compartilhou com a Bemis a tarefa de aprovisionamento daqueles invólucros à DE Master Blenders, Miguel Ascoli Neto considera o expediente “genial” para produtos que tenham pureza, naturalidade ou nostalgia como apelos de marketing. “É um diferencial que não custa mais do que uma simples aplicação de verniz e cujo resultado é convincente. O filme plástico fica parecendo, mesmo, papel”, comenta o profissional.
Quem ainda não pôde conferir o efeito pode fazê-lo nos pães da Bimbo, em difusão no varejo. Como digo no primeiro parágrafo, é algo que somente pode ser compreendido e apreciado adequadamente in loco – as imagens que acompanham este texto apenas dão uma ideia do que se trata. E o que ele é? Além de recurso gráfico, um exemplo providencial de que nem sempre é necessária uma inovação mirabolante para obter-se uma embalagem especial.
Em tempo: considero importante um acréscimo ao que é exposto no parágrafo inicial. A ausência de observações sobre embalagens em comunicados à imprensa é natural, uma vez que veículos especializados, como o nosso, não são seus únicos destinatários. O Grupo Bimbo e sua assessoria, a propósito, merecem enaltecimento: estão entre os poucos emissários cujas notas de lançamentos trazem informações sobre embalagens. O próprio press release sobre a linha Sabor de Padaria aponta a presença de um “trabalho especial em verniz” nas embalagens dos produtos, assim como a identificação da agência de design que participou do projeto.
* Guilherme Kamio é jornalista, editor executivo de EmbalagemMarca.
* Atualização (16/06/2015): A Benchmark Design entrou em contato com a Redação reivindicando a autoria do design das embalagens, antes atribuído à Narita Design. A informação foi alterada seguindo o pedido de retificação.
