Por Ricardo Sastre*
Sob o ponto de vista da área de conhecimento, a embalagem não é propriedade de uma disciplina em especial, ela se encontra em diversas áreas, tais como o design, a comunicação, as engenharias, agronomia, química, física, dentre outras. No mercado, as soluções muitas vezes são setorizadas, atendendo uma parte do processo de desenvolvimento, como o design gráfico ou design estrutural por exemplo. A embalagem é um sistema complexo e demanda um olhar mais aprofundado sobre as suas interações durante todo o ciclo de vida.
O entendimento completo sobre o processo de desenvolvimento de uma embalagem é o ponto de partida para oferecer soluções mais assertivas e com menor impacto ambiental. Em toda a minha formação acadêmica e profissional, tive que buscar em diversas áreas o entendimento sistêmico sobre a embalagem, hoje percebo a importância deste olhar multidisciplinar para o desenvolvimento de soluções sustentáveis.
Os cursos de curta duração disponíveis no mercado sobre embalagem são importantes para a formação de profissionais, bem como os cursos de pós-graduação, porém, a criação de um curso superior especificamente em embalagem poderia ser um caminho para promover a cultura da embalagem no Brasil. Percebe-se a necessidade de formar pessoas com o olhar completo sobre embalagem. Os profissionais que estão no mercado atuando tiveram que seguir o mesmo caminho multidisciplinar para conseguir um entendimento amplo sobre a embalagem ou se especializaram em soluções pontuais dentro do seu ambiente corporativo.
O Brasil produziu em 2023 o equivalente a 144 bilhões de reais em embalagens, é um mercado em crescimento devido a sua importância para a movimentação de produtos no mundo. É imprescindível que os projetos estejam alinhados com todas as etapas do ciclo de vida, cumprir suas funções e atender as demandas dos stakeholders envolvidos no processo. Quando a embalagem está em um nível estratégico no modelo de negócio, sendo tão importante quanto o próprio produto, torna-se mais relevante este olhar sistêmico.
Em contrapartida, percebe-se a dificuldade de encontrar profissionais dispostos em direcionar as suas carreiras para a área de embalagem. É sempre um desafio fechar turmas nos cursos disponíveis no mercado. As empresas deveriam incentivar a cultura da embalagem em seus modelos de negócio. Ela é parte do produto e o consumidor não separa uma coisa da outra. Quando ele compra uma mercadoria, a embalagem é o primeiro contato, tem um custo e cumpre funções.
Estamos em um mercado de múltiplas possibilidades, é necessário incentivar professores, pesquisadores e os profissionais da indústria e prestação de serviços em investir na área de embalagem, para fomentar a construção e disseminação de conhecimento sobre o tema no Brasil. Avançamos muito ao longo das décadas, mas devido ao aumento da complexidade através da inserção de novas tecnologias e da importância de reduzir impacto ambiental, precisaremos continuar evoluindo para dar conta destas mudanças significativas na sociedade. Os produtos e as suas embalagens são desenvolvidos para atender aos anseios de uma sociedade, oferecer uma solução sob medida do projeto ao resíduo é o que o mundo precisa para continuar se desenvolvendo sustentavelmente.