Ante esses dois flagelos, reflexões sobre como a embalagem pode ajudar empresas a arriscar para vender mais
Por Guilherme Kamio*
Nos supermercados, as prateleiras com lacunas ou mesmo vazias parecem comprovar que a escalada dos casos de dengue gerou um aumento expressivo da procura por inseticidas e repelentes de mosquitos. O boom nas vendas oferece um contexto propício para fabricantes pensarem em aprimoramentos dos negócios, capazes também de serem obtidos por meio das embalagens.
É nítida, por exemplo, a oportunidade para a oferta de opções mais acessíveis, uma vez que inseticidas e repelentes costumam exigir desembolso relativamente alto. Abater custos de embalagem contribuiria decisivamente para baixar preços dos produtos? Se sim, por que não estudar, por exemplo, o acondicionamento de repelentes cremosos, normalmente vendidos em frascos, em pouches (bolsas plásticas)?
Sachês, por sua vez, soam interessantes para repelentes on-the-go, para o consumidor carregar consigo na bolsa ou na mochila, ou para guardar no porta-luvas do carro. Seria uma solução de emergência, para não deixar pessoas serem pegas desprevenidas.
Outro possível caminho já é trilhado por RB e Kimberly Clark em loções repelentes para crianças: o uso de bisnagas, cujo custo é geralmente menor que o de frascos. Sobre as bisnagas, porém, pairam dúvidas quanto à capacidade de absorção de novas demandas pelos fornecedores, que já trabalharam muitas vezes no limite.
À parte o ensejo para opções mais em conta, não haveria, na outra ponta, oportunidade para mais repelentes líquidos em aerossol, de apelo premium? Trata-se de um produto que, aparentemente, já teve dias melhores.
Talvez o custo e a complexidade da operação exigida pelos recipientes com propulsão expliquem o pendor do mercado para os repelentes em frascos com válvula spray. Mas não há dúvida de que o aerossol entrega mais conveniência – e muitos consumidores não se importam de pagar pela comodidade. Não foi essa disposição, afinal, o que provocou o ocaso dos antigos inseticidas em bombas de flit?
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Ainda sobre flagelos atuais do Brasil, a escassez de água confere ares promissores a um produto que parece ainda não ter comovido a indústria de higiene e beleza: o xampu a seco, que não exige enxágue. O modo de uso consiste em espargir a fórmula nos cabelos e depois escová-los.
Conheci o produto há cerca de um ano e meio, quando minha namorada adquiriu uma unidade. Era um Batiste, feito nos Estados Unidos pela Church & Dwight. Achei que seria batata: logo, logo, dezenas de empresas brasileiras lançariam suas versões. Parece que aquela expectativa ainda não se confirmou. Numa rápida pesquisa na internet, encontrei pouca oferta nacional. O Boticário entrou na onda. A Charming (Cless Cosméticos) também – já oferecendo até mesmo uma opção para homens, com ação anticaspa.
No plano externo, muitos xampus a seco são oferecidos como aerossóis. Talvez o anseio de empresas nacionais em seguir o padrão venha dificultando seus lançamentos. Ocorre que não tem sido fácil obter tubos (latas) de alumínio no mercado nacional, dada a grande demanda.
Nesse sentido, o uso de latas de aço pode ser providencial – convém lembrar, a propósito, que metalgráficas querem emplacar o uso do aerossol de aço no setor de cosméticos, o que pode facilitar as coisas. Se o projeto for urgente e contar com pouca verba, soa oportuna a aquisição de tubos “lisos” (sem impressão) e sua decoração com rótulos termoencolhíveis ou autoadesivos.
Outra possibilidade é o uso de frascos plásticos com válvulas spray, de oferta abundante e que implicam operação menos complexa. Independentemente da solução escolhida, é interessante que a embalagem seja portátil. Isso porque o xampu a seco tem como forte apelo o uso on-the-go: fabricantes incentivam consumidoras a levar o produto na bolsa para retocar as melenas durante a correria do dia a dia.
Para toda regra há exceção, claro. Um exemplar da Sanol (Total Química), lançado em 2013, é apresentado em frasco de grandes dimensões, dotado de gatilho spray. Ou seja, parece mais material de limpeza doméstica do que cosmético. O inusitado tem explicação: é um xampu para banho a seco de cães e gatos (ver imagem). Soa justo oferecer o paliativo aos bichos de estimação, para que eles não sejam tão prejudicados por erros de outros animais.
*Guilherme Kamio, jornalista, é editor executivo de EmbalagemMarca.