Por Andrea Pegorini Lacerda*
Quando se trata de proteger o planeta, não existe segredo industrial. Sempre fui dessa opinião, ainda mais agora, tendo participado de um projeto de Aterro Zero do início ao fim. Além de constatar que é possível chegar lá, tirei várias conclusões e quero compartilhar o passo a passo ideal para as empresas que desejam dar um destino sustentável aos seus resíduos.
O primeiro passo é realizar um inventário, ou seja, um verdadeiro “raio-x” dos dejetos para esclarecer a destinação atual, volumes e quantidades. A partir daí, é precisar definir novas destinações que agreguem valor ao resíduo e o coloque de volta na cadeia produtiva, caso isso seja possível. Mas atenção: minha dica é começar do mais fácil para o mais difícil, pois sua equipe irá se engajar, vibrar e redobrar energias ao “ticar” cada item da lista.
Uma forma de pesquisar as potencialidades de cada resíduo é estudar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), divulgado no primeiro semestre de 2022. O documento traz as metas relacionadas à reciclagem de diferentes materiais para os próximos 20 anos, com o objetivo de reaproveitar muito mais resíduos do que é feito hoje. Algumas alternativas para esse reuso são, além da reciclagem, a compostagem, a biodigestão e a recuperação energética.
Além disso, surgiu o Certificado de Crédito de Reciclagem, dentro do Programa Recicla+, parceria entre os ministérios do Meio Ambiente e Economia. A ideia é garantir que resíduos como o papelcartão tenham circularidade por meio de cooperativas, com notas fiscais sem duplicidade e garantia de veracidade. Cada vez mais, a legislação torna a indústria corresponsável por esse processo, para que o insumo retorne ao processo produtivo e fomente a economia circular.
Para isso, as marcas de bens de consumo precisam comprovar a logística reversa de suas embalagens. Sabemos que, no Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são reaproveitados, enquanto países como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia têm uma média de 16% de reciclagem, conforme a International Solid Waste Association (ISWA). Se a comparação for feita com países desenvolvidos, os números ficam ainda mais distantes. O índice de reciclagem alemão, por exemplo, é de 67%.
Mas se você é da indústria brasileira, com certeza já arregaçou as mangas para fazer sua parte, não é mesmo? Por exemplo, o que é feito das embalagens que acondicionam seu produto depois que você o entrega ao cliente final? O consumidor também precisa entender como separar o lixo em casa para que ele retorne à produção de maneira adequada. Mais do que isso, a população é um agente influenciador da conscientização de que o lixo pode, e deve, tornar-se um novo produto.