Por Alexandre Pierantoni*
A pandemia de Covid-19 afetou globalmente todas as indústrias e cadeias de negócios, obrigando diversas delas se reinventarem. Mas alguns setores tiveram recuperação rápida, apresentando crescimento acima do esperado em contexto anterior à pandemia. O segmento de embalagens, globalmente, é um deles. No Brasil, onde o setor chega ao todo a movimentar próximos R$ 100 bilhões ao ano, algumas empresas registraram crescimentos acima de 25% em 2020.
O setor de embalagens foi positivamente impactado pelas mudanças nas cadeias logísticas e necessidades de (e formas de) consumo da população mundial. No Brasil, calcula-se que o e-commerce cresceu mais de 40%, e o impacto na indústria de embalagens foi imediato. As operações de delivery, incluindo todos tipos de produtos – de alimentos a bens de consumo, duráveis ou não; da alimentação que anteriormente era consumida “fora de casa” – em restaurantes, por exemplo, que passaram ao sistema delivery ou drive thru; de compras de supermercados que passaram a ser entregues, necessitando de embalagens.
Há desafios. A cadeia de suprimentos das matérias primas de embalagens também sofreu seriamente com rupturas, variações e disponibilidades de commodities. Diversas indústrias sofreram um movimento parecido com uma montanha-russa, envolvendo volumes, preços e custos (e no Brasil afetado não somente pela variação dos preços dos commodities, mas também por variações cambiais), que começaram a se equilibrar ao final do segundo semestre de 2020 (ai então permitindo recuperação e busca de reequilíbrio de margens).
Em 2020 verificamos, globalmente, cerca de 200 transações no setor de embalagens, movimentando mais de US$ 7 bilhões. No Brasil ainda temos um setor com diversas empresas de perfil familiar e bastante propenso a consolidações. A atratividade é grande, seja pelas oportunidades de combinação de negócios, alavancando operacionalmente as operações, mas também pela complementação de produtos e áreas de atuação. Investidores financeiros, embora minoria de participação nas transações no setor, continuam analisando oportunidades. Há uma tendência global de atenção a questões de Environmental, Social & Governance – ESG no segmento (Environmental em destaque por questões de formas e controle de retorno ou descarte, tempo de decomposição/ degradação, materiais substitutos e naturais; Social & Governance por crescente questões de regulação, comunicação e certificações de qualidade e preservação).
O Brasil já é palco de operações de todos os grandes players mundiais. E continua alvo de atenção e de oportunidades. A demanda brasileira é significativa e está em expansão. Investidores estratégicos globais e financeiros (fundos de investimento, tipo private equity) estão com operações bastante ativas no Brasil. A lista é longa e, dentre diversos outros e de diversos tamanhos delas, podemos mencionar as operações no Brasil da Berry Corporation, da Ardagh Group, da Marubeni (que adquiriu a Santher em fevereiro de 2020 por R$ mais de R$ 2,3 bilhões), da Klabin (que adquiriu as operações da International Paper em março de 2020 por cerca de R$ 350 milhões), da Klingele Paper & Packaging (comprou unidade da Klabin em 2020 em operação de aproximadamente R$ 200 milhões), da CCL Industries, da Amcor/ Bemis (em 2018 a Amcor adquire globalmente a Bemis por US$ 5,6 bilhões), da Gualapack, da Sonoco, da Avery Dennison, da Logoplaste (que teve 60% de seu capital vendido ao Ontario Teachers’ Pension Plan Board – OTPP, por US$ 1,4 bilhão em fevereiro de 2021 -anteriormente a Logoplast era investimento do fundo americano Carlyle), e financeiros, como por exemplo, as operações da CCRR (empresa do portfólio de investimentos do banco BTG). E há novos investimentos green field, como por exemplo da Klabin que tem investimentos estimados em cerca de R$ 10 bilhões em nova fábrica no Paraná.
Mas ainda há relevantes players mundiais que não estão no Brasil e buscam se posicionar – ou mesmo aqueles que estão querem se fortalecer. E sim, a lista de empresas brasileiras de perfil familiar que poderiam se alavancar e maximizar os valores e perspectivas com uma operação é maior. É uma questão de momento, oportunidade e posicionamento.
Além de mandatos em outros setores, a Duff & Phelps, A Kroll Business tem dedicação específica ao setor de embalagens, com mandatos ativos assessorando compradores e vendedores em operações no Brasil e no exterior. Recentemente a Duff & Phelps assessorou, com uma avaliação e emissão de Fairness Opinion de valor da operação, o board da Gores Holdings V uma Special Purpose Company (SPAC*) em sua transação com a Ardagh Group S.A., na combinação dos negócios de embalagens de metal (Ardagh Metal Packaging S.A.). A operação (anterior Ball Corporation) é líder global em embalagens de metal para refrigerantes e bebidas alcóolicas, com operações nos EUA, Europa e 3 plantas no Brasil, gera receitas de US$ 3.5 bilhões e foi avaliada em US$ 8.5 bilhões (aproximadamente 10.5x o EBITDA projetado para 2022).
Por fim, há de se destacar que o panorama macro é fundamental para essa visão positiva. O ano de 2021 já registrou um primeiro trimestre com recorde de atividades de Fusões e Aquisições (sigla M&A, em inglês). Foram anunciadas 363 transações, o que representa um crescimento de 71% em relação ao mesmo período de 2020.
As atividades de M&A devem bater novo recorde em 2021 e atingir um patamar recorde histórico de mais de 1.300 operações (em 2020 foram cerca de 1.100 operações), com crescimento de cerca de 20% em relação a 2020. Os setores que se destacam continuam sendo os de Tecnologia, Alimentos e Bebidas e Instituições Financeiras. Tecnologia é um direcionador de transações para todos os setores – financeiro, agronegócios, varejo, e logística, embalagens, dentre outros.
Mesmo assim, é impossível não considerar, no cenário macro, que, mesmo com alguns recentes avanços, a aguardada agenda de reformas e privatizações custa a sair do papel. Os acordos políticos, amargos de compreensão, mas necessários, são críticos para implementação de políticas de crescimento e ajustes de agenda e responsabilidade fiscal.
Sem direcionamentos e respostas urgentes para questões de cunho fiscal, tributário, ambiental, econômico, social – que inclui a questão de saúde e de atenção ao tratamento da pandemia, dificilmente essa perspectiva se sustenta. Precisamos de uma liderança que consiga coordenar e estimular uma agenda positiva.