O foco não são os materiais, mas o contexto de uso em cada embalagem

Por Ricardo Sastre*

*Ricardo Marques Sastre é publicitário, especialista em expressão gráfica e gestão empresarial; mestre em design; doutor em Engenharia de produção e pós-doutorando em Design, pesquisador, consultor e professor universitário

Um dos itens importantes para a redução de impacto ambiental em projetos de produto e embalagem é a escolha da matéria-prima e a sua separação ou reaproveitamento no fim de vida. Ao longo do tempo, foi sendo desenvolvidas diversas soluções para acondicionamento, respeitando diretrizes impostas por legislações, sistemas de envase, limitações técnicas, mercado, os anseios dos usuários, dentre outros. Questões relacionadas a sustentabilidade durante muitos anos foram deixadas em segundo plano, algumas cadeias já estão organizadas e outras ainda não conseguiram encontrar a melhor maneira de administrar seus impactos, principalmente no pós-uso.

Estamos em um processo acelerado de sobreposição de tarefas e prazos de entrega cada vez mais curtos. Por um lado, os recursos tecnológicos facilitam nosso trabalho, mas em contrapartida nos trazem prejuízos, tanto em nossa saúde física e mental, quanto nos níveis de soluções em projetos. Não temos tempo para refletir, acumulamos resíduos em nossos pensamentos e no meio ambiente.

Uma das dificuldades em integrar a área acadêmica com o mercado são os prazos de entrega divergentes, a primeira busca uma análise mais aprofundada sobre o contexto que está atuando e a segunda quer resultado financeiro imediato, não considerando o custo sistêmico. O modelo linear instituído desde a revolução industrial prioriza soluções mais rápidas, independente dos reflexos que isso pode causar. Uma catástrofe ambiental é mais onerosa do que repensar o modelo de negócio com foco em redução de danos.

Diante de todo esse contexto, percebe-se diversas distorções em relação ao uso de materiais. Atualmente o setor plástico está negativamente em evidência, sendo banido em alguns países e/ou repensado em diversos segmentos de mercado. Anula-se seus atributos positivos sem refletir sobre o contexto em que ele está inserido.

Por outro lado, o papel por ser de fonte renovável e a sua cadeia gerar carbono positivo, está em alta. A cada ano aumenta o percentual de participação do papel no mercado, substituindo embalagens que tradicionalmente eram produzidas com outras matérias-primas. Recomenda-se entender se estas soluções estão atendendo a amplitude de funções que a embalagem exerce.

Os metais possuem um alto índice de reciclabilidade por causa do seu valor atrativo na reciclagem, por este motivo, existe um movimento em deslocar produtos para esta cadeia produtiva. Considerar apenas um atributo ou setor na tomada de decisão pode ser prejudicial no resultado global, este é um ponto de atenção.

Novos materiais estão sendo criados, impulsionados pela demanda emergente para a redução de impacto ambiental.  Acima de tudo, o mais importante é entender as necessidades sistêmicas em cada projeto novo ou existente no mercado e a partir desta imersão, escolher as opções mais assertivas para cada contexto e ponderar os impactos ambientais do produto e da embalagem. A redução é um caminho tangível e quantificável, recomenda-se iniciar por este caminho.

Projetos que considerem soluções baseadas em economia circular tendem a gerar menos impacto, mas são mais difíceis de serem colocadas em prática devido a barreira cultural de um sistema linear construído ao longo de décadas e/ou no desenvolvimento de novas estruturas para atender a circularidade. É muito difícil abandonarmos hábitos e rotinas, precisamos de uma atenção especial e tempo para readaptação. Será que o mercado está preparado para isso? O caminho mais curto é acreditar em soluções prontas e não parar para refletir em profundidade.

A ONU publicou recentemente em seu site que 8% da pegada de carbono no planeta advém do desperdício de alimentos. Neste sentido a embalagem exerce um papel fundamental de conservação, envolvendo questões ambientais, econômicas e sociais, independente da matéria-prima. Não se trata de condenar ou favorecer um material ou outro, mas analisar o contexto baseado no ciclo de vida e buscar soluções efetivas em cada caso. Todas as matérias-primas são importantes, desde que estejam em seus devidos lugares, o foco está na solução do problema.

Por fim, torna-se necessário buscar soluções efetivamente sustentáveis, entendendo todo o contexto. A tomada de decisão não deve ser política ou financeira, mas genuína, no sentido de contribuir para a redução de impacto ambiental, nosso planeta não está mais suportando e a natureza se manifesta, cada individuo deve fazer a sua parte.  

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