Por Luis Eduardo Ramirez*
Em 1951, era concebida na Suécia a primeira embalagem cartonada do mundo, inicialmente disponibilizada para leite e feita à base de papel em forma de tetraedro. A motivação de seu criador, Ruben Rausing, foi a de disponibilizar diferentes categorias de alimentos e bebidas de forma segura, em qualquer lugar, sem a necessidade do uso de conservantes ou refrigeração. Ele acreditava, ainda, que uma embalagem deve economizar mais do que custa.
No ano seguinte, a empresa que acabara de fundar, a Tetra Pak, lançou a primeira máquina de envase para embalagens cartonadas em forma de tetraedro, entregue a uma empresa de laticínios de Lund, na Suécia.
Dava-se início, assim, ao que mais tarde se transformaria em um ecossistema que ajudaria a indústria na jornada de disponibilizar alimentos de maneira segura em todos os lugares. Os anos sequenciais trariam outras soluções, estratégias e ofertas que pavimentariam um longevo caminho para as caixinhas e as fariam ideais para a indústria de alimentos e bebidas, ajudando-a em seus inúmeros desafios e tornando-as, assim, cada vez mais populares entre os consumidores em todo o mundo.
Nestes mais de setenta anos, a tecnologia é um ponto central para explicar essa longevidade. A embalagem longa vida, ao longo deste período, ganhou novos formatos, tamanhos, além de novas funcionalidades – temos como exemplo as tampas, os canudos, que foram se adequando às caixinhas e, assim, atendendo diferentes necessidades da indústria, ajudando-a no desafio de entregar valor aos consumidores, com perfil mais heterogêneo e com diferentes demandas. Mas uma coisa não mudou em meio a todo esse processo: as ELVs seguem tendo em sua composição materiais que foram combinados para a proteção dos alimentos.
Ao todo, seis camadas compõem as chamadas embalagens cartonadas que Rausing introduziu no mercado: polietileno (com função de proteção contra a umidade); papel-cartão (para estabilidade e resistência); outra camada de polietileno (para aderência do papel-cartão na folha de alumínio); folha de alumínio (mais fina que um fio de cabelo humano, funciona como uma barreira contra oxigênio e luz e, assim, mantém o valor nutricional e as características do alimento mesmo em temperatura ambiente); e outras duas camadas de polietileno (que servem tanto como camada de aderência e como camada de proteção para o alimento). Mas a melhora da tecnologia não para nunca. No caso da Tetra Pak, ela já investe, na Europa, em embalagens cartonadas cuja camada de alumínio já pode ser substituída por outra totalmente à base de fibras, mantendo as características de preservação dos alimentos.
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Além de toda tecnologia por trás da combinação destes materiais, somam-se a ela os tratamentos térmicos de pasteurização e “Ultra High Temperature” (UHT) para a conservação dos alimentos. E há, ainda, a combinação de soluções de processamento e envase asséptico (sem contato com o ar). Todos estes fatores, juntos, garantem a segurança do alimento em todas as etapas, desde o processo de fabricação até o momento de consumo, sem a necessidade do uso de conservantes ou mesmo refrigeração antes da abertura das caixinhas ao longo da vida útil (de prateleira) do produto. E enquanto não forem abertas, as características do alimento estão asseguradas, o que garante tempo de prateleira. Algo valioso para indústria ao longo de cada uma destas décadas.
Além disso, ao longo do tempo, elas mostraram ser opções interessantes por permitirem aos fabricantes de alimentos e bebidas planejarem melhor sua logística. Ao dispensarem a refrigeração durante o transporte, além de terem um formato que otimiza a utilização de espaço, levar os produtos de um ponto a outro ganhou uma nova dinâmica, mais facilitada e sustentável. A funcionalidade é eficaz, ainda, contra o desperdício de alimentos – um desafio que atravessa os tempos e que certamente está na pauta da indústria, seja no presente ou no futuro. Rausing, em seu intuito de disponibilizar alimentos seguros em qualquer lugar, sabia, por exemplo, que o leite rico em nutrientes poderia ser exportado para países em desenvolvimento se pudesse criar uma maneira de mantê-lo fresco.
Se no início de tudo Rausing pavimentou o caminho para o segmento de embalagens longa vida e de maquinários para envase asséptico, com o tempo, outras ofertas mostraram-se igualmente relevantes ao segmento de alimentos e bebidas, com soluções integradas não apenas de processamento e envase, mas incluindo nesta equação, também, serviços – ou seja, indo além das embalagens cartonadas, formando um verdadeiro ecossistema capaz de ajudar fabricantes do setor de alimentos e bebidas em seus diversos desafios.
Um exemplo, colocado em prática atualmente, é o sistema de co-packing. Nele, qualquer empresa ou marca, independentemente do seu tamanho ou setor, pode produzir sua bebida ou estampar a sua marca em um produto em embalagem longa vida. Este conceito tem ganhado destaque como uma abordagem inovadora para fabricantes da indústria de alimentos e bebidas que não possuem instalações próprias de produção. Neste modelo, o fabricante fornece a receita e os insumos necessários para a produção, enquanto toda a infraestrutura fabril é terceirizada para um co-packer, uma empresa especializada que detém os recursos e equipamentos para fabricar e envasar alimentos de diversas marcas.
Vale, ainda, mencionar como as embalagens cartonadas têm se adaptado a demandas de tempos mais atuais. Pegando como referência as caixinhas da Tetra Pak, uma característica dos materiais que as compõem é a sustentabilidade. As camadas de polietileno, papel-cartão e alumínio são provenientes de fontes renováveis e responsáveis, o que lhes conferiu certificações de importantes instituições, como Bonsucro, Forest Stewardship Council™ (FSC™ C014047) e Aluminium Stewardship Initiative (ASI).
E há toda uma preocupação, no caso da Tetra Pak, com o pós-consumo das embalagens: além da contribuição com toda a cadeia de reciclagem, desde cooperativas até a inclusão social de catadores autônomos de materiais recicláveis. Soma-se a isso a parceria com diversos recicladores homologados no Brasil, que contribuem com o compromisso com a economia circular, transformando materiais reciclados de embalagens pós-consumo em novos produtos de valor agregado, como telhas, pallets, cadernos, poltronas, caixas, pisos etc. Vale mencionar a contribuição com toda a indústria para tornar o ciclo de produção e consumo de alimentos mais sustentável, com equipamentos de processamento voltados a menor impacto ambiental e maior eficiência.
E por que as premissas de sustentabilidade importam para a indústria? Não vou me aprofundar sobre o papel das empresas nem sobre a pressão por que passam neste sentido. Mas trata-se de uma demanda atual dos consumidores também. A pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2023, realizada pelo Akatu e GlobeScan, revelou que 82% dos brasileiros querem reduzir bastante seu impacto pessoal sobre o meio ambiente, índice 10 pontos percentuais superior à média global, o que precisa ser melhor estimulado por empresas e sociedade civil. Este é apenas um dentre tantos possíveis exemplos de como ofertas e produtos alinhados a este propósito importam.
Outro ponto interessante nesta discussão é um recurso chamado “Ad on Pack”. Nele, as laterais das caixinhas podem ser usadas para levar conteúdos especiais aos consumidores, ampliando o papel estratégico das embalagens, que se tornam, também, uma ferramenta de comunicação. Considerando a omnicanalidade, um conceito que nos traz que o consumidor pode estar não apenas no ambiente offline, mas também no online, trata-se de um meio poderoso. Muitos fabricantes já utilizam QR Codes nas embalagens para dialogar com o consumidor e direcioná-los a páginas de interesse.
Abraçar o novo é importante e essencial para toda a indústria. E se isso contemplar seguir entregando o básico e essencial, que atravessa os tempos, com tecnologias cada vez mais avançadas, ainda melhor. Para quem está no ramo de alimentos e bebidas, é importante estar de olho nas tendências e mudanças para o futuro. Saber que existem soluções e serviços no mercado para ajudá-la em tal desafio, cumprindo a premissa essencial de proteger os alimentos, pode ser um grande facilitador.