Brasileiro precisa de mais informações para se comprometer com reciclagem

Pesquisa faz parte do Vox Lab, laboratório de estudos organizado pelo Instituto Recicleiros e financiado pela SIG  

Entre os meses de fevereiro e novembro de 2023, o Instituto Recicleiros, Organização da Sociedade Civil que atua no desenvolvimento de soluções para a gestão sustentável de resíduos sólidos em todo Brasil, mapeou o comprometimento dos brasileiros com a reciclagem. Os indicadores coletados em sete municípios — Guaxupé (MG), Serra Talhada (PE), Cajazeiras (PB), São José do Rio Pardo (SP), Naviraí (MS), Piracaia (SP) e Caldas Novas (GO) — revelam que é preciso mais informação para o comprometimento dos cidadãos com a reciclagem: os entrevistados demonstraram dúvidas sobre itens recicláveis e destacaram falta de tempo e de hábito para separar resíduos.

A pesquisa faz parte das ações do Vox Lab, recorte voltado para aprendizados em mudança de comportamento para com a geração de conhecimento, com o intuito de avaliar a adesão da população à coleta seletiva. Estes projetos de pesquisa contam com o aporte do patrocínio semente da SIG, empresa especializada em envase e embalagens cartonadas.

“Nosso objetivo foi coletar dados para apoiar iniciativas pelo Brasil e para a construção de políticas públicas de gestão de resíduos sólidos. Além disso, o conhecimento dessas informações nos auxilia a entender a curva de adesão da população aos sistemas de coleta seletiva para promover o aumento das taxas de reciclagem no país”, diz Erich Burger, diretor do Instituto Recicleiros.

Para Isabela de Marchi, gerente de Sustentabilidade da SIG na América do Sul, “a mudança de comportamento do cidadão é o primeiro passo e um dos mais importantes no fomento de uma cadeia ética de reciclagem no país. Sem a atitude dele, investimentos em infraestrutura e novas tecnologias de reciclagem não são suficientes. O trabalho do Vox Lab é fundamental para gerar dados que vão direcionar ações mais efetivas para sensibilizar e aumentar a adesão da população à coleta seletiva”.

Mais de 3.200 pessoas foram ouvidas em sete cidades, sendo três regiões e seis estados. Em cada região, em torno de 390 a 400 pessoas responderam à pesquisa. A margem de erro é 4,95%. As perguntas foram coletadas de porta em porta em alguns municípios que contam com o Programa Recicleiros Cidades, implantado pelo Instituto Recicleiros em parceria com as prefeituras.

Quando perguntados sobre o que seria importante para as pessoas reciclarem mais ou começarem a reciclar, os entrevistados disseram que precisam de mais informações. Mesmo se a cidade pesquisada já se beneficia da coleta seletiva, os moradores levantaram a necessidade de distribuição de lixeiras e a instalação de pontos de entrega voluntária de recicláveis.

Já sobre qual a importância de reciclar, a maioria dos entrevistados disse que reciclar é um ato de cuidado com o meio ambiente.

Outro ponto de destaque no relatório foi o interesse dos cidadãos em obter mais informações sobre quais materiais são recicláveis, como funciona a cooperativa, quais os benefícios da reciclagem para o meio ambiente e como fazer o descarte dos resíduos corretamente.

Conforme apresenta o próximo gráfico, questionados sobre como desejam receber estas informações, a pesquisa revela que é através das redes sociais, em primeiro lugar, seguido de rádios, panfletos, porta a porta, WhatsApp/ Telegram, TVs e carros de som.

Sobre os dados referente às pessoas que não têm o hábito de reciclar, as respostas mais frequentes foram a falta de tempo, seguida pela falta de costume, desconhecimento de como fazer e pouca geração de resíduos recicláveis.

A falta de tempo também aparece na pergunta sobre qual a maior dificuldade na hora de separar os materiais para a reciclagem.

Sobre a higienização das embalagens, a população entrevistada alega que não tem o hábito de higienizar os resíduos antes de fazer o descarte.

Para a realização desta pesquisa, foi aplicado um método quantitativo, com coleta de dados mediante aplicação de um questionário estruturado. A modalidade de preenchimento do questionário foi de administração indireta – o inquiridor registra a informação fornecida pelo respondente (Quivy & Campenhoudt, 1998). Trata-se da implementação de um survey, que é um processo cujo objetivo é buscar informação temática válida e fiável, obtida a partir das respostas individuais dadas a um conjunto de questões por um grupo representativo de respondentes, em torno das quais se produzem conclusões passíveis de serem generalizadas ao universo da população em estudo (Thayer-Hart et al., 2010,). Aplicou-se o survey descritivo para identificar situações, comportamentos e/ou opiniões sobre a reciclagem. Para a análise dos dados, utilizou a estatística descritiva.

Ao todo foram feitas 27 perguntas fechadas divididas em quatro tópicos: Perfil da população; Conhecimento e compromisso com a Reciclagem; conhecimento e percepção sobre os serviços de reciclagem e Conhecimento e percepção sobre a comunicação para reciclagem.

Próximos passos

Com os primeiros resultados desta pesquisa, o Vox Lab iniciou a aplicação de testes em microterritórios para entender como a população se comporta diante de ações de fomento à reciclagem. Em novembro de 2023, foram implantados nos municípios de Serra Talhada (PE), Cajazeiras (PB) e Naviraí (MS), o Projeto TITO – Testes de Incentivo em Territórios de Observação. Foram instituídos seis microterritórios (cada um com uma amostragem de 50 residências) por cidade. Foram testadas, em cada localidade, a distribuição de sacolas retornáveis, sacos verdes de uso único, aumento para dois dias de coleta seletiva, instalação de pontos de entrega voluntária (PEV) e intensificação da comunicação direcionada para a coleta seletiva e reciclagem. Todas estas ações vieram de indicativos da pesquisa aplicada anteriormente.

Os microterritórios foram monitorados durante seis semanas, dentro de um método de pesquisa de estudo de caso – envolvendo observação direta, aplicação de questionários e no final, entrevistas em profundidade. Ao todo, foram 850 residências monitoradas, 363 mobilizações diretas, 176 pesquisas aplicadas e 34 entrevistas em profundidade. Os resultados destes primeiros testes já estão sendo catalogados.

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