Por Júlio Jubert Caiuby Guimarães*
A proteção do meio ambiente se sustenta hoje em três pilares: o consumidor, que prefere produtos embalados com sustentabilidade; a legislação, que, cada vez mais, sinaliza aos fabricantes de bens de consumo que é necessário comprovar aquilo que reciclam; e a indústria, que tem a oportunidade de olhar, pensar e trazer alternativas à comunidade e continuar competitiva. Ou seja: estamos diante de um desafio coletivo que requer protagonismo e paixão por soluções.
Para nós da indústria, ao associar embalagens recicláveis à geração de renda das famílias de catadores, atendemos aos quesitos ESG e contribuímos ativamente para a geração de renda familiar e melhoria da qualidade de vida desses trabalhadores. Ao ouvir nossos stakeholders e cumprir nosso compromisso ambiental, social e de governança, também abrimos portas para negociações de linhas de crédito mais acessíveis.
Mas vamos à pergunta fundamental atualmente: qual o melhor papel, aquele com fibra virgem ou reciclado? Quando cuidamos do desejo cada vez mais presente do consumidor em comprar embalagens de material reciclado, percebemos a via de “mão dupla” que os fabricantes de papel podem seguir. De um lado, a fibra virgem é necessária para embalagens com contato direto com alimentos, por exemplo, mas também porque ela inicia o ciclo de reciclagem do papel. Por outro, as caixas e sacolas já utilizadas, somadas às aparas e sobras de gráficas, compõem novos rolos de papel reciclado que darão sequência ao ciclo produtivo.
Quem produz a fibra virgem tem a vantagem de contar com padrões globais de manejo e preservação das florestas, o que, tecnicamente falando, aumenta a performance, rigidez e printabilidade da embalagem, além de garantir o cuidado com o meio ambiente. Já as indústrias de papel reciclado contam com auditorias especializadas para atestar que o seu papel é derivado de aparas vindas de recicladores, que voltam ao mercado por meio de embalagens sustentáveis.
Hoje temos, lado a lado, as já conhecidas florestas de árvores e uma imensidão de “florestas de aparas”, que tornam o lixo reciclável um verdadeiro tesouro. Elas diminuem o volume dos aterros e deixam de poluir a biodiversidade de rios e mares. Ao invés disso, esse tesouro se tranforma em uma nova mercadoria. Essa cadeia já é precificada por algumas startups ligadas ao setor de reciclagem.
Nosso atual desafio é oferecer tanto a opção da fibra virgem, necessária para dar início ao ciclo do papel, quanto embalagens feitas de papelcartão reciclado de boa performance na impressora, leves e compostas com quantidades sustentáveis de fibras virgens. Além disso, o consumidor também pode participar dessa jornada sustentável e incentivar a coleta em seu condomínio, nos restaurantes e pontos de consumo. Assim, numa corrente autossustentável, traremos de volta ao ciclo de produção as embalagens já utilizadas.
Isso significa fomentar a mentalidade da inovação em todo o processo, com um balanço necessário entre a economia linear e circular. Afinal, a visão dos recursos finitos como via única de crescimento econômico está em xeque, e não podemos ficar estagnados em velhos métodos. Tenho certeza de que, assim, seremos exemplo e embalaremos o futuro da reciclagem no Brasil e no mundo.