Não aceite a média

Rotinas e protocolos tendem a limitar a contribuição dos
profissionais de embalagem. Vale a pena desligar o piloto automático

Por Jorge Maquita*

O mexicano Jorge Maquita é gerente global de embalagem da PepsiCo. Acumula mais de 35 anos de experiência no campo do packaging, tendo passagens por Unilever, Gillette e Kraft Foods. Contato: jmaquita@prodigy.net.mx

O mexicano Jorge Maquita é gerente global de embalagem da PepsiCo. Acumula mais de 35 anos de experiência no campo do packaging, tendo passagens por Unilever, Gillette e Kraft Foods. Contato: jmaquita@prodigy.net.mx

No artigo anterior falamos do valor agregado que a engenharia de embalagem é capaz de proporcionar ao negócio de bens de consumo. Uma vez definidas as tarefas de nossa responsabilidade, a próxima questão que temos de nos perguntar é quanto valor nós devemos acrescentar aos projetos.
A quantidade de valor depende essencialmente do quanto queremos nos envolver no sucesso da iniciativa, bem como do quanto queremos investir no futuro, em termos de aprendizagem e de trabalho para os projetos seguintes – em outras palavras, do quanto queremos investir em nosso crescimento e futuro profissional.
Um comportamento comum é simplesmente mover as atividades de um projeto de A para B, gerar amostras que foram solicitadas, aprovar os documentos que nos são entregues, executar os testes na planta de acordo com o protocolo, escrever especificações, visitar fornecedores. Muitos projetos e atividades são realizados de determinada maneira porque sempre foram feitos assim, funcionando bem. No entanto, os processos costumam guardar oportunidades ocultas de melhoria, de inovação ou de economia.
Além disso, sempre existe algum projeto em particular em que as coisas não ocorrem como deveriam, por alguma razão – uma troca de fornecedor, uma mudança não comunicada pelo fornecedor ou simplesmente por uma situação que jamais fora prevista. Não conseguimos encontrar a causa raiz da falha porque não temos as ferramentas ou o conhecimento específico dos equipamentos envolvidos. Para resolver o problema, pode ocorrer o over-design.

Em vez de simplesmente mover as coisas de A para B, o profissional de embalagem pode seguir outro rumo, mais agradável: mapear o caminho de A para B, construí-lo, projetá-lo de tal forma que isso gere dados suficientes para garantir a assimilação do processo, do produto, do desempenho da embalagem no processo de conversão, na produção, na armazenagem e distribuição. Isso tende a fazer com que detectemos antecipadamente qualquer desvio e possamos corrigi-lo, ou com que identifiquemos oportunidades de melhoria, de inovação ou de poupança, podendo implantá-las rapidamente.
A fim de conseguir isso, enumero algumas recomendações:

· Quando auditar um fornecedor, não faça apenas uma revisão geral de seus equipamentos. Aprofunde-se nos detalhes de sua capacidade técnica, nas tolerâncias que ele pode entregar, em moldes e matrizes, no equipamento de conversão. Recolha evidências de que o material de embalagem pode ser fabricado dentro das tolerâncias exigidas pelo seu equipamento, faça uso de análise estatística, verifique como o processo de impressão é controlado. Pedir a um fornecedor a produção de um rótulo não é o mesmo que pedir a ele, por exemplo, a fabricação de um rótulo de papel de gramatura específica, com uma resistência X ao desgaste, dentro de uma tolerância de 0,3 milímetro – e verificar se ele consegue atender aos requisitos.

· Conheça o seu equipamento de embalagem tão bem quanto os operadores. Certifique-se de compreender tolerâncias, fraquezas, as especificações que devem atender a atributos dimensionais e funcionais, as velocidades do equipamento, sua eficiência. Você está projetando para um equipamento específico. Quanto mais você souber sobre ele, através do trabalho com o operador, através da realização de testes e protocolos de tal maneira que eles lhe entreguem dados úteis, através de perguntas à área de Engenharia, mais você será capaz de antecipar e definir suas especificações, para implantar sem problemas seus projetos, reduzir os riscos e estabelecer sua viabilidade.

· Comunique-se constantemente com a área de Engenharia ou com a divisão responsável pela aquisição das máquinas de embalagem. Em algumas empresas, é comum que esse departamento se veja como uma unidade separada, que não precisa envolver o departamento de Embalagem na compra de equipamentos, no layout que desejam aplicar, ou em mudanças que fazem no meio do projeto, removendo ou substituindo equipamentos que você já havia considerado. Interagir com quem decide a compra do maquinário é oportuno para assimilar as capacidades dos equipamentos, em termos de especificações funcionais e tolerâncias (tanto dimensionais quanto funcionais). Ao mesmo tempo, o interlocutor tem a chance de saber mais sobre produtos e materiais de embalagem.
· Conheça e entenda o produto que será acondicionado – sua interação com o ambiente e com o material de embalagem em si, os fatores contra os quais o produto deve ser protegido, o quanto de proteção é necessário. Como o produto será armazenado e transportado ao longo da cadeia de distribuição? Quais choques, quedas e forças de compressão a embalagem deve suportar? Quais os efeitos de fatores ambientais como luz ambiente, luz ultravioleta, oxigênio e umidade na embalagem e em seu conteúdo? Como o produto será usado pelo consumidor? Tudo isso ajuda a projetar a embalagem com o custo e a proteção certos, permitindo reduzir o tempo da curva de aprendizagem para o futuro. A este respeito, é importante que você mantenha constante comunicação e engajamento com os especialistas que desenvolvem o produto. Se isso é algo que faz parte da sua experiência de faculdade, você tem uma vantagem. Se não for, cultive o hábito. Isso lhe ajudará a compreender e a responder de forma adequada às necessidades de proteção. Uma observação: ao perguntar a um desenvolvedor de produtos o quão sensível é o produto a fatores ambientais ou físicos, “muito”, “bastante” ou “muito pouco” não são valores numéricos, e não devem ser aceitos como resposta.

· Utilize um arsenal de ferramentas analíticas que lhe permitam entender os dados coletados. Meus recursos favoritos são estatística e probabilidade. Utilizo-os especialmente para definir se existem quaisquer aprimoramentos ou diferenças entre um processo e outro, por meio de testes de hipóteses; para definir se um material atende a uma especificação, não só porque o valor médio está dentro do parâmetro, mas pela porcentagem que pode estar fora dele, através da análise do desvio padrão em curvas de distribuição normais; para estabelecer se um molde ou uma faca atende às especificações e tolerâncias para que sejam certificados; para saber se o processo de produção de um fornecedor é capaz de fabricar consistentemente dentro das especificações, por meio de análise de seu Cpk ou de sua capacidade de processo. Às pessoas que se contentam em saber valores médios, convém lembrar-se de um conhecido adágio: “Seres humanos, bem como equipamentos, não percebem médias; percebem valores individuais”.

Fico por aqui para não me alongar em demasia. Você pode estar se perguntando: por que tanta análise, tantos detalhes, tanta profundidade sobre o assunto? Fiquemos com duas respostas: “Em Engenharia de Embalagem, o diabo está nos detalhes” e “Todo trabalho feito apenas para ser cumprido tem o risco de cair” – isto, aliás, é o que eu chamo a lei da gravidade no trabalho.
As melhores empresas não contratam pessoas para que elas simplesmente cumpram seu trabalho, mas para que possam ir além e contribuir de outras formas, fora de suas circunscrições. E é nisso que acúmulo de conhecimento, tenacidade e atenção aos detalhes podem nos ajudar, permitindo-nos detectar oportunidades de inovação, de melhorias de processo, de economia, de redução do ciclo de tempo de projetos. Isso tudo reverterá em resultados que garantirão reconhecimento profissional.

 

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