Do excesso ao minimalismo

Após críticas por manejo complicado, caixinhas de
balinhas agora são condenadas por falta de clareza

Por Guilherme Kamio*halls-mini

Desconfiei do vendedor da Mondelez que me disse, dois meses atrás, que Halls XS seria cancelado. Como São Tomé, fiquei com um pé atrás e decidi esperar uma prova. Acho que a encontrei dia desses, quando topei numa padaria com o Halls Mini. A proposta é a mesma de XS: balinhas esféricas acondicionadas em pequenos cartuchos de papel cartão.

Qual o motivo do aparente reboot? (Suponho que o seja por não ter uma confirmação da Mondelez. Sua assessoria de imprensa não respondeu às tentativas de contato feitas por e-mail.). Teria sido a embalagem? Faz-se necessária, aqui, uma pequena digressão.

Quando foi lançado, no final de 2010, o Halls XS imediatamente me cativou. Gostei demais do conceito do candy e do cartucho de manejo peculiar – baseado num sistema de gaveta, deslizante, dependente de um destravamento inicial (a remoção de uma tira picotada em seu verso) para funcionar. A comissão julgadora de Grandes Cases de Embalagem 2011 também apreciou o produto, selecionando-o como um dos vencedores daquela edição do prêmio.

Halls

Halls XS, que foi aposentado junto com a embalagem com sistema de abertura deslizante

Alguns amigos e familiares, porém, manifestaram descontentamento com o modo de abertura – segundo eles, muito complicado ou pouco intuitivo para usuários de primeira viagem. Também passei a observar críticas à embalagem em sites de reclamações e em redes sociais da internet. Numa delas, um consumidor avalia a caixinha como “muuuuuuiiiitooooo ruim”, especialmente por ela não deslizar mais quando amassada, sugerindo à Mondelez “um refactory”.

O Halls Mini permite supor que o pedido foi atendido. Em vez da mecânica do XS, o cartucho do novo produto conta com uma abertura superior mais simples – basculante, do tipo flip-top. Quão importantes foram os protestos no ciberespaço para a definição dessa embalagem? Foram feitos focus groups ou pesquisas criteriosas com consumidores? Adoraria saber.

Absorto em especulações sobre a mudança, fui pego de surpresa ao constatar que o Halls Mini, e sua embalagem, também já são alvo de reclamações na internet – e por um aspecto que, confesso, não percebi de imediato. Ocorre que a novidade, que a princípio imaginei como mera revisão do XS, com ajuste na embalagem, é na realidade outro produto. O XS trazia como um forte apelo o fato de ser zero açúcar; o Mini, por seu turno, é açucarado.

As queixas, em grande parte, condenam o fato de a informação da presença de açúcar ser minúscula na embalagem. Como a caixinha é muito parecida à de Halls XS, preservando seus principais equities, apesar da alteração da abertura, há quem diga se sentir mesmo ludibriado. Um consumidor relata que a falta de clareza o levou, sendo diabético, a consumir inapropriadamente uma bala com sacarose. “Minha desconfiança é de que a semelhança de embalagem é proposital”, diz o reclamante.

Soa mesmo razoável que o aviso sobre a presença de açúcar seja mais explícito. Isso não implica, necessariamente, “poluição” do facing. Rapidamente, sem muita reflexão, ocorre-me como possibilidade a impressão de uma mensagem de que a bala é mesmo doce (ou de que o produto é diferente do XS) no filme de BOPP transparente que envolve os cartuchos – ou no fitilho abre-fácil incluído nesse outer pack.

O episódio de Halls Mini é mais uma amostra de como a preparação de produtos e embalagens inspira muito cuidado, para que consumidores não se sintam iludidos. E, de minha parte, torna necessária uma penitência: vendedor da Mondelez, você estava certo.

Guilherme Kamio, jornalista, é editor executivo de EmbalagemMarca.

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