A tendência dos vinhos sem álcool, ou com baixo teor alcoólico, está se consolidando como um dos movimentos mais significativos no mercado global de bebidas, impulsionada por uma mudança cultural em direção a um estilo de vida mais saudável e equilibrado. e as vinícolas brasileiras estão atentas a esse movimento.
O crescimento global de uma indústria milionária
O mercado global de bebidas com baixo ou nenhum teor alcoólico está em plena expansão. Segundo dados da IWSR, uma das principais consultorias do setor, a categoria de bebidas sem álcool deve crescer a uma taxa anual composta de 7% até 2028, adicionando cerca de 4 bilhões de dólares ao mercado de bebidas. Entre 2022 e 2024, a pesquisa aponta que cerca de 61 milhões de novos consumidores aderiram a essa categoria, o que demonstra uma rápida e significativa mudança nos hábitos de consumo.
A tecnologia tem sido a grande aliada desse crescimento. Métodos como a destilação a vácuo (processo realizado sob pressão atmosférica reduzida, quando o álcool é extraído da bebida basicamente por meio da alteração da pressão) e a osmose reversa (a bebida passa por uma filtragem, fazendo com que o álcool e a água sejam separados do restante da composição do vinho. A água que resta do processo é colocada de volta no vinho e o álcool descartado) permitem que as vinícolas removam o álcool do vinho após a fermentação, preservando os compostos aromáticos, ácidos e a estrutura sensorial da bebida original. Isso resulta em produtos que, cada vez mais, se assemelham a vinhos tradicionais em sabor e complexidade, superando a antiga percepção de que vinhos sem álcool seriam apenas sucos de uva.
O mercado brasileiro e o despertar das vinícolas
No Brasil, o cenário não é diferente. O crescimento do consumo de bebidas zero álcool no país reflete a tendência global, e o consumidor brasileiro, especialmente o público mais jovem e as pessoas que não podem ou optam por não consumir álcool (como gestantes ou por questões de saúde), encontra nessa categoria uma alternativa socialmente aceitável e de alta qualidade para participar de eventos e confraternizações.
Vinícolas brasileiras, atentas a essa demanda, estão investindo em inovação para lançar produtos competitivos.
A Salton apresentou rótulos especialmente desenvolvido para consumidores que desejam desfrutar de um sabor autêntico e marcante, mas sem a presença do álcool, como o Salton Zero Álcool Moscato e Salton Zero Álcool Rosé. “Acompanhando os movimentos e tendências de mercado, a Salton, que é a referência nacional em espumantes, amplia seu portfólio olhando com mais atenção para um público crescente que busca socializar e apreciar a vida de uma forma mais leve e que, a partir de agora, não precisa abrir mão do prazer de brindar e de apreciar os sabores que remetem ao espumante”, explica Luciana Salton, diretora executiva da companhia.
A Zanlorenzi Bebidas também acaba de anunciar dois novos rótulos para ampliar a linha de Espumantes Campo Largo: as versões Zero Álcool Moscato e Moscato Rosé, que se somam às versões tradicionais da marca disponíveis no mercado – Brut, Moscatel e Moscatel Rosé.
“Estamos sempre atentos às demandas de mercado, e percebemos a procura por produtos zero álcool. Vimos na marca Campo Largo, com toda sua tradição, a oportunidade de ampliação de portfólio por meio destes lançamentos, com opções descomplicadas e inclusivas”, afirma Juliane Rudolf, gerente de Marketing da Zanlorenzi Bebidas.
A Cooperativa Vinícola Aurora também tem apostado na linha Zero Álcool, que inclui versões branco, rosé, Cabernet Sauvignon e Merlot. A vinícola utiliza como base suco de uva levemente gaseificado, apresentando um produto com a sofisticação visual de um espumante e a experiência sensorial de um fermentado desalcoolizado. Segundo Rodrigo Valerio, diretor de Marketing e Vendas da Aurora, a cooperativa acompanha de perto as mudanças de comportamento do consumidor. “Atingimos ainda um público que simplesmente escolheu não consumir álcool. Outro ponto que contribuiu para a ampliação desta categoria foi a Lei Seca para o consumo de álcool por motoristas. Isso mudou o comportamento de grande parte da sociedade. As pessoas se tornaram mais responsáveis e passaram a buscar produtos que garantissem essa segurança”, ele conta.
“Há uma demanda de quem aprecia espumantes menos doces, mas que, por alguma razão, não pode consumir ou não quer consumir bebida alcoólica”, afirma Ricardo Morari, enólogo da Cooperativa Vinícola Garibaldi.
Uma das pioneiras na produção de vinhos sem álcool no Brasil, a Vinícola La Dorni oferece uma variedade produtos, incluindo as versões Tempranillo e Tannat, mostrando que é possível ter complexidade e estrutura mesmo na ausência de álcool. “Um dos maiores desafios que os vinhos sem álcool enfrentam hoje está ligado a certos preconceitos. Muitos dos quais, aliás, vêm justamente de sommeliers ou consumidores tradicionais que têm uma expectativa muito rígida do que um vinho de verdade deve ser”, relata Jonathan Cristiano Martins, sommelier da La Dorni.
Com o crescimento desse mercado, as vinícolas reforçam as parcerias com as vidrarias, como a Verallia e a Owens Illinois (O-I), para impulsionar a categoria de espumantes e vinhos zero álcool.
Em suma, a tendência de vinhos sem álcool deixou de ser um nicho para se tornar uma categoria promissora e estratégica. Com a tecnologia a favor e o consumidor mais consciente, as vinícolas brasileiras estão se adaptando e inovando, garantindo que o prazer de degustar um bom vinho seja acessível a todos, independentemente do teor alcoólico.