- O mercado brasileiro de RFID (Identificação por Radiofrequência) está em franca expansão, acompanhando a tendência global de crescimento projetada em 6,3% ao ano até 2028
- No setor de embalagens, a tecnologia desponta como uma ferramenta estratégica para atender à demanda por eficiência, rastreabilidade e sustentabilidade
- Em entrevista a EmbalagemMarca, Fabiana Wu, gerente de Solutions Group da Avery Dennison para a América Latina, traça um panorama desse mercado no Brasil, especialmente na área de embalagens

O mercado brasileiro de RFID (Identificação por Radiofrequência) tem crescido nos últimos anos, com aplicações em diversos setores, incluindo o de embalagens, que é um dos mais dinâmicos da economia nacional. Embora o uso de RFID no setor de embalagens ainda esteja em fase de expansão, ele é impulsionado pela busca por eficiência logística, rastreabilidade e sustentabilidade.
O mercado global de RFID está projetado para crescer a uma taxa anual de cerca de 6,3% até 2028, e o Brasil acompanha essa tendência, especialmente em setores como logística, varejo e embalagens. No Brasil, a adoção tem sido mais significativa em empresas de maior porte devido aos custos iniciais elevados, mas a tecnologia está se democratizando.
A tecnologia RFID é usada para rastreamento de produtos, gestão de estoque e prevenção de perdas. No setor de embalagens, ela permite monitoramento em tempo real da cadeia de suprimentos, garantindo maior visibilidade e controle.
Os principais entraves incluem o alto custo de implementação, interferências em materiais metálicos ou líquidos (comuns em embalagens) e a necessidade de integração com sistemas existentes. Apesar disso, avanços tecnológicos, como etiquetas compatíveis com micro-ondas e superfícies metálicas, estão superando essas barreiras.
Em entrevista a EmbalagemMarca, Fabiana Wu, gerente de Solutions Group da Avery Dennison para a América Latina, fala sobre os desafios da tecnologia de RFID no setor de embalagens e quais as perspectivas desse setor.
EmbalagemMarca – De maneira geral, como está o mercado para a tecnologia do RFID no Brasil, em comparação a outros mercados?
Fabiana Wu – O mercado brasileiro de RFID tem avançado de forma consistente nos últimos anos, especialmente impulsionado pela crescente demanda por eficiência, rastreabilidade e digitalização nas cadeias de suprimentos. Embora ainda esteja em um estágio de maturidade um pouco abaixo quando comparado a mercados como Estados Unidos, Europa e partes da Ásia, o Brasil tem demonstrado grande potencial de crescimento e adoção, principalmente nos setores de varejo, logística, saúde e alimentos.
Temos observado um aumento expressivo no interesse e na implementação de soluções RFID por parte de empresas brasileiras que buscam inovação e visibilidade em tempo real de seus processos. A tecnologia tem sido cada vez mais percebida como um investimento estratégico e não apenas como uma solução operacional, deixando de ser visto e reconhecido como uma importante ferramenta somente no varejo, mas também em projetos industriais e de logística. É uma tendência que vemos também nos outros mercados, porém aqui no Brasil (e na América Latina) vemos que esses segmentos andam meio que juntos (varejo+industrial/logística), enquanto em muitos países o varejo já tem boa parte com a tecnologia implementada.
Além disso, o Brasil se beneficia de um ecossistema industrial robusto e inovador. Nossa operação local em Vinhedo, por exemplo, conta com uma das unidades de manufatura de inlays RFID mais avançadas do mundo, com capacidade para atender tanto o mercado nacional quanto exportar para países da América Latina e outros continentes. Isso fortalece o protagonismo do Brasil na adoção e desenvolvimento de soluções RFID com foco em eficiência, sustentabilidade e escalabilidade.
No varejo, como o RFID melhora a experiência do cliente e quais suas principais aplicações?
A tecnologia RFID transforma a experiência do cliente no varejo ao oferecer mais agilidade, conveniência, personalização e precisão em todos os pontos de contato. Um dos principais benefícios é a visibilidade em tempo real dos estoques, o que garante que o consumidor encontre o produto certo, no lugar certo e na hora certa — seja na loja física, no e-commerce ou em modelos híbridos como o “clique e retire”.
Com RFID, o varejista consegue otimizar a reposição de produtos, reduzir rupturas de estoque, acelerar processos de inventário e melhorar a acuracidade das informações. Isso se traduz em uma jornada de compra mais fluida e satisfatória para o cliente, com menor frustração e maior disponibilidade de itens.
A tecnologia viabiliza experiências mais conectadas e personalizadas ao consumidor final, como a disponibilidade de informações detalhadas de produtos e sua origem, provadores inteligentes, pagamentos sem fila e rastreabilidade do produto desde a origem até o ponto de venda; algo cada vez mais valorizado por consumidores atentos à transparência e à sustentabilidade.
Quais são os componentes de uma etiqueta RFID? Elas são produzidas no Brasil?
Uma etiqueta RFID é composta basicamente por três elementos principais: o chip, que armazena e transmite as informações; a antena, que capta e emite os sinais de rádio; e a base ou substrato, que pode ser de papel, filme ou outro material adequado à aplicação final.
Na Avery Dennison, produzimos o que chamamos de inlay – a combinação da antena com o chip – que é a parte essencial da etiqueta RFID. Esse inlay recebe um substrato adesivo que pode ser posteriormente convertido em etiquetas ou inserido em embalagens, dependendo do uso.
Em nossa unidade de Vinhedo (SP) produzimos inlays RFID localmente, com tecnologia de ponta, atendendo ao mercado nacional e também exportando para outros países de outras regiões.
Essa produção local é um diferencial estratégico, pois garante agilidade, escalabilidade, customização e, principalmente, suporte técnico especializado para as empresas que estão adotando RFID em suas operações. Além disso, seguimos rigorosos padrões de sustentabilidade em nossos processos industriais, reforçando nosso compromisso com a inovação responsável.
De que forma a tecnologia RFID contribui para a redução de custos operacionais?
A tecnologia RFID contribui de forma significativa para a redução de custos operacionais ao automatizar processos, eliminar ineficiências e fornecer dados em tempo real que permitem decisões mais assertivas. No varejo, por exemplo, a acuracidade do inventário com RFID pode ajudar a reduzir perdas, evitando estoques desnecessários e aumentando a disponibilidade de produtos.
Com a leitura automática de etiquetas por radiofrequência — sem a necessidade de contato visual direto, como no código de barras — é possível realizar inventários em minutos, com menos mão de obra e menor margem de erro. Isso impacta diretamente na produtividade das equipes e no controle de ativos.
O RFID ajuda a prevenir furtos e desvios na cadeia de suprimentos, melhora o controle de validade de produtos sensíveis (como alimentos e medicamentos), otimiza a logística e reduz custos associados a devoluções e falhas de entrega.

Qual o papel da tecnologia RFID no aprimoramento de processos em rótulos e embalagens?
A tecnologia RFID eleva rótulos e embalagens a um novo patamar, transformando-os em ferramentas inteligentes de rastreamento, controle, interação e conectividade ao longo de toda a cadeia de valor. Ao incorporar RFID em rótulos ou embalagens, é possível integrar o produto a sistemas digitais de gerenciamento, proporcionando visibilidade em tempo real desde a produção até o ponto de venda – e até mesmo no pós-venda.
Para o consumidor, o RFID permite criar um engajamento através de atividades interativas entre ele e a marca, e a possibilidade de explorar outras ferramentas de comunicação que ajudam o produto a se diferenciar, como o storytelling.
Do ponto de vista operacional, isso se traduz em processos mais ágeis e precisos: desde o controle automatizado de inventário, até a verificação rápida de validade, procedência e movimentação dos produtos. Essa visibilidade contribui para reduzir perdas, melhorar a logística e aumentar a eficiência de processos de embalagem, armazenagem e transporte.
No ponto de venda, embalagens com RFID permitem experiências mais fluídas e convenientes, como checkouts automatizados e rastreabilidade acessível ao consumidor por meio de dispositivos móveis ou interfaces digitais.
Na Avery Dennison, temos um portfólio completo de soluções que integram RFID aos rótulos e embalagens e desenvolvidos sob medida para diferentes segmentos – como alimentos, bebidas, cosméticos, saúde e logística. Nossas soluções ajudam marcas a atender demandas regulatórias, oferecer transparência e construir confiança com o consumidor final.
Como o uso do RFID em rótulos e embalagens pode influenciar a logística e o varejo no Brasil?
O uso de RFID em rótulos e embalagens tem um potencial transformador para a logística e o varejo no Brasil, especialmente diante dos desafios do país em termos de dimensão territorial, complexidade tributária e diversidade de canais de distribuição. Ao integrar RFID diretamente nas embalagens, é possível garantir rastreabilidade, controle e visibilidade em tempo real sobre o fluxo de mercadorias — desde a origem até o ponto de venda.
Na logística, isso significa maior eficiência no recebimento e expedição de produtos, redução de erros e retrabalhos, otimização de estoques e maior agilidade no transporte. Com etiquetas RFID, as empresas conseguem automatizar processos como conferência de cargas, controle de lotes e gestão de inventário, além de prevenir perdas e desvios.
No varejo, os benefícios se estendem à experiência do consumidor: com produtos sempre disponíveis, menor tempo de reposição e maior precisão nos canais omnichannel. A tecnologia também permite integração fluida entre diferentes pontos da cadeia, tornando a operação mais inteligente, responsiva e sustentável. Além disso, as marcas também têm a possibilidade de expandir a comunicação além do PDV, trabalhando com ferramentas digitais que podem ser acessadas através da tecnologia que está disposta na embalagem.
Quando temos uma etiqueta RFID como parte do produto, seja ele em rótulos ou embalagens de produtos, costumamos falar que criamos um gêmeo digital. Isso significa que conseguimos rastrear o produto desde seu “nascimento”, quando colocamos o rótulo ou embalamos identificando o produto, até o momento que o mesmo é consumido e/ou descartado. Por ter uma identificação única, o caminho que ele percorre (com os pontos de leitura) permitem que o rastreio seja feito com maior acuracidade, além da agilidade pois não precisamos de linha de visão para a leitura do produto (ele é “escaneado” à distância, com alguns modelos de etiquetas de RFID sendo lidos a mais de 15m de distância).

Quais as principais aplicações do RFID no setor de rótulos e embalagens?
As aplicações mais relevantes do RFID em rótulos e embalagens envolvem a automação da cadeia logística, o controle de inventário em tempo real, a rastreabilidade de produtos desde a origem até o consumidor e a proteção contra falsificação, especialmente em setores como moda, alimentos, bebidas, saúde e cosméticos. Também vem ganhando espaço em embalagens inteligentes que monitoram validade, temperatura ou condições de transporte, garantindo a qualidade original do produto. Na Avery Dennison, desenvolvemos soluções RFID integradas a rótulos que atendem a esses diferentes usos com foco em eficiência, transparência e inovação.
No início da chegada do RFID, havia queixas de custos por parte da indústria que poderia individualizar suas embalagens com etiquetas únicas. Esse ainda é um empecilho?
O custo já foi um dos principais desafios para a adoção do RFID, especialmente em aplicações de alto volume com necessidade de identificação unitária. Mas essa realidade vem mudando rapidamente. Com a evolução tecnológica, os ganhos de escala e a produção local – como a que temos na Avery Dennison, em Vinhedo (SP) – o custo das etiquetas RFID caiu significativamente nos últimos anos, tornando a tecnologia muito mais acessível.
Quando pensamos em um projeto de RFID, é importante pensar no ROI (retorno sobre o investimento) de todo o projeto. O volume de etiquetas de RFID aumentou e a tecnologia mudou bastante, tornando-se mais eficiente e mais competitiva; algumas barreiras técnicas também foram superadas (por exemplo quando queremos colocar a tag sobre um produto metálico) e minha recomendação sempre é avaliar todos os benefícios que se tem ao aplicar a tecnologia em seu processo, já que muitas vezes os mesmos não estão diretamente ligados ao custo da etiqueta, mas em melhoria de processos e informações com acuracidade.
O retorno sobre o investimento é comprovado. O RFID deixou de ser um custo adicional e passou a ser um fator estratégico de competitividade e inovação para a indústria e o varejo.
Na sua opinião, como os desafios do RFID podem ser enfrentados para garantir sua adoção responsável e de que forma a questão da privacidade impacta a adoção da tecnologia?
A adoção responsável do RFID passa por boas práticas de transparência, governança de dados e educação do mercado. Um dos principais desafios é garantir que a tecnologia seja usada com clareza sobre sua finalidade, especialmente quando há interação com o consumidor final. Por isso, é essencial que marcas comuniquem como os dados são coletados, protegidos e utilizados, respeitando legislações como a LGPD no Brasil.
A privacidade, quando bem tratada, não é uma barreira, mas um elemento que fortalece a confiança. As etiquetas RFID não armazenam dados pessoais — elas carregam apenas identificadores que se conectam a sistemas seguros —, e podem ser desativadas ou removidas em casos sensíveis. Cabe às empresas adotarem soluções seguras e respeitarem a finalidade da coleta, mantendo o consumidor informado.
Na Avery Dennison, desenvolvemos nossas soluções de RFID com foco em segurança da informação, rastreabilidade ética e sustentabilidade. Também trabalhamos em conjunto com parceiros, varejistas e reguladores para construir um ecossistema mais preparado e responsável para a expansão da tecnologia.
Quais outros setores, além dos mencionados, poderiam se beneficiar significativamente do uso do RFID no Brasil e no mundo?
Além do varejo, logística, moda e saúde, setores como agroindústria, automotivo, energia, construção civil e aviação têm grande potencial para se beneficiar do RFID. Na agroindústria, por exemplo, a tecnologia pode ser usada para rastrear insumos, monitorar lotes de produção e garantir conformidade sanitária. No setor automotivo e industrial, o RFID permite controle preciso de componentes, ferramentas e ativos críticos ao longo da linha de montagem.
Na construção civil, pode facilitar o gerenciamento de materiais em grandes obras, enquanto no setor aéreo já é usado para rastrear bagagens e cargas com mais eficiência. Também vemos um avanço no uso da tecnologia em eventos, segurança patrimonial e gestão de ativos corporativos, com aplicações que vão de controle de acesso à automação de processos internos.
Com a maturidade da tecnologia, o RFID está cada vez mais acessível e aplicável a diferentes contextos, e a Avery Dennison tem atuado de forma estratégica para adaptar soluções às realidades e necessidades de diferentes mercados, tanto no Brasil quanto globalmente.
Acreditamos que a visibilidade que temos com o uso da tecnologia também beneficia a sustentabilidade, pois quando temos visibilidade de todo o caminho, sabemos o que é necessário produzir (não produzimos excessos); podemos usar o RFID para identificar o produto e recomendar a destinação correta do mesmo – se pensarmos na economia circular de uma roupa, por exemplo; ou mesmo usar a tecnologia para nos guiar se é um produto criado de acordo com nossos valores (onde, quem produziu).
Você poderia explicar quais as principais diferenças entre as tecnologias do RFID e do NFC?
RFID (Identificação por Radiofrequência) e NFC (Comunicação por Campo de Proximidade) são tecnologias de identificação por rádio, mas com aplicações e alcances diferentes. O RFID é mais amplo, com diferentes faixas de frequência (baixa, alta e ultra-alta), podendo operar a distâncias maiores – de alguns centímetros até vários metros – e com capacidade de leitura múltipla, o que o torna ideal para rastreabilidade, controle de inventário e logística em larga escala.
Já o NFC é uma forma específica de RFID de alta frequência, com alcance muito curto (até cerca de 4 cm), voltado para interações ponto a ponto, como pagamentos por aproximação, autenticação de produtos e experiências digitais via smartphones. Ele é mais voltado ao consumidor final, enquanto o RFID tradicional é mais usado em processos operacionais e industriais.
Avery Dennison trabalha com ambas as tecnologias, desenvolvendo soluções que vão desde etiquetas RFID para rastreamento em cadeia logística até rótulos com NFC para engajar o consumidor e ampliar a transparência das marcas. São tecnologias complementares que, juntas, conectam produtos físicos ao mundo digital em diferentes etapas da jornada.