Os acontecimentos nos últimos anos impulsionaram mudanças no mercado de consumo através da Covid-19, dengue, conflitos armados, aquecimento global, além de novas normas de rotulagem de alimentos e bebidas
Por Mauricio Speranzini*
Não me lembro das últimas décadas serem tão movimentadas quantos os anos recentes. Algumas destas mudanças vieram para ficar e proporcionam benefícios permanentes. Na Covid houve uma grande procura pelo e-commerce que acelerou em muitos anos a escolha para compras on line, a confiança dos consumidores em produtos embalados que faziam questão de olhar atentamente as informações, fabricante, selagem, lote…. Eram situações corriqueiras e até esquecidas, mas tiveram uma importância ainda maior pela gravidade da doença e contágio. Isto também está acontecendo agora, com a epidemia da dengue. Kits elaborados para testes rápidos em outros canais, como drogarias, têm desafogado atendimento hospitalar e ajudado consumidores e as redes também, pois mais uma prestação de serviços com qualidade, renda e geração de empregos. Isto somente é possível com embalagens e produtos que venham atender necessidades específicas e a transformação rápida das empresas e canais de distribuição.
Por outro lado, os conflitos armados têm ocupado o noticiário diariamente e mais uma vez a embalagem se torna protagonista em viabilizar a entrega tão complicada e de formas inusitadas como o envio de ajuda humanitária com alimentos, medicamentos e produtos de primeira necessidade lançados por aviões por paraquedas. A tecnologia de embalagem se faz presente, íntegra e tão desejada. O aquecimento global tão contundente demonstra suas mudanças em grande escala com terremotos, chuvas torrenciais, calor ou seca estremas. As embalagens novamente se destacam como produtos de confiança, que salvam vidas e minimizam o caos instalado.
No mercado de consumo brasileiro, as novas normas pela Anvisa, também adotadas em outros países, marcam uma grande mudança e para muito melhor pois informa os alimentos e bebidas que possuem alto grau de gordura e açúcar. Chamam atenção dos consumidores para fazerem melhores escolhas, terem consciência para o consumo responsável, pois as doenças como obesidade, pressão alta, dentre outras, atingiram níveis nunca vistos. Quando vi a aplicação destas normas no México fiquei impressionado, o que me levou também a repensar em comprar ou não certos produtos.
O setor de café também passa por uma transição pelo Ministério da Agricultura com normas adotadas pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) para que os consumidores e as empresas estabelecidas não fossem prejudicados onde agora é obrigatório informar o tipo de café, nível de torra, rastreabilidade e outros. Assim os consumidores conhecem melhor os produtos, podem escolher o tipo que mais agrada e de sua preferência.
Com tantos fatos e ações inesperadas torna-se incrível que a embalagem deve estar sempre em desenvolvimento, nunca estática, porque o mercado também se movimenta, tem novas tecnologias, mudanças de hábitos e comportamento dos consumidores. Independente do canal de vendas, físico ou virtual, é a embalagem que seduz o consumidor, chama atenção entre várias opções nas gôndolas, deve informar seus atributos, se relacionar com seu publico e entregar aquilo que se propõe. Mas a embalagem é um meio, não o fim. Se o produto tem uma aparência cativante e seu conteúdo não for tão interessante quanto, o consumidor muda suas escolhas. E com a proximidade do consumidor com as empresas através da facilidade da comunicação pelas redes sociais, sua expressão é cada vez mais ouvida e percebida. As empresas devem aprender que isto é muito bom, ouvir os anseios, sugestões e reclamações do seu público para oferecer produtos e serviços mais adequados.
Os grandes centros urbanos estão cada vez mais longe dos locais de produção por isto que a embalagem viabiliza que um produto chegue protegido, seguro até o local de venda e consumo. É o design de embalagens que deve estudar todos os aspectos de um produto, desde sua marca, cores, pilares de comunicação, mensagens explícitas e subliminares, ressaltar os pontos positivos e deficiências, ponto de venda, hábitos de consumo, canais de venda, ciclo de vida do produto, materiais, reciclagem, verificar as possibilidades dos fabricantes, produtores e fornecedores, conhecer in loco a empresa, seu propósito, as equipes, saber do seu histórico e objetivos, tendências da categoria e similares no Brasil e exterior, legislação e obrigações legais. A partir deste universo o designer deve estabelecer caminhos para transformar um produto para ser atrativo e relevante ao seu público, oferecer uma boa experiência, trazer recursos e resultados para as empresas.
As pessoas veem a embalagem, mas esta é a última etapa de um projeto de design. Não é perfumaria: tem objetivo, prazo, valor percebido, entusiasmo da equipe, satisfação dos consumidores e, resultados para os acionistas. Foi uma equipe multidisciplinar que trabalhou no desenvolvimento para chegar até as mãos dos consumidores. E isto não é um caminho final, precisa de acompanhamento e fazer ajustes se necessários, acompanhar e avaliar as métricas e respostas ao mercado.