Movendo-se para uma economia circular em plásticos

Por José Fernandes*

*José Fernandes é presidente da Honeywell Performance Materials and Technologies (PMT) para a América Latina

Os governos estão cada vez mais levando a sério a tarefa de lidar com os riscos ambientais apresentados pelos plásticos que entram no fluxo de resíduos. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, globalmente, apenas 9% dos resíduos plásticos são reciclados. De todo o plástico fabricado entre 1950 e 2017, 7 bilhões de toneladas se tornaram resíduos, e essa quantidade continua crescendo.

Hoje, o mundo produz o dobro de plástico do que há duas décadas, e 8 milhões de toneladas por ano acabam nos oceanos. Até 2050, pode haver mais plástico no mar do que peixes, de acordo com o World Wildlife Fund. No total, existem 170 trilhões de fragmentos de lixo plástico acumulados nos oceanos do mundo, conforme um estudo internacional publicado no site PLOS One.

Embora a redução do uso de plástico possa ajudar, é improvável que a necessidade desse material desapareça. Os materiais plásticos desempenham um papel importante na sociedade, como preservar a vida útil dos alimentos, proteger produtos médicos contra contaminação e a lista de usos continua. Os avanços na tecnologia de reciclagem são apenas uma parte da equação para a diminuição da poluição desses resíduos no meio ambiente.

No geral, nossa sociedade global ainda precisa de plásticos para manter e expandir padrões de vida saudáveis, modernos e seguros. No entanto, isso não nega o problema da poluição pelo seu consumo; apenas desafia os tomadores de decisão evitar simplificar demais o problema e implementar soluções realistas e eficazes para reduzir o desperdício de plástico. No paralelo, é necessário fechar o ciclo entre proprietários e operadores de infraestrutura de reciclagem, fabricantes de plásticos e fabricantes de bens de consumo para melhorar ainda mais a taxa de reciclagem.

Os governos tomam medidas para reduzir o desperdício de plástico

Em todo o mundo, agências governamentais nacionais, estaduais e locais estão tentando reduzir o desperdício de plástico, com medidas que podem assumir a forma de restrições ou proibições de conveniências comuns de uso único, como sacolas plásticas em supermercados. No Brasil, o país produz anualmente mais de 500 bilhões de itens plásticos de uso único, como embalagens e outros produtos descartáveis.

Segundo o estudo “Um Oceano Livre de Plásticos”, o Brasil polui os oceanos com mais de 325 mil toneladas de resíduos desse material ao longo dos anos. Para tentar reverter a situação, o País está propondo um marco regulatório para a Economia Circular e Sustentável do Plástico, que limitará o uso e a produção de plástico, e só poderão entrar no sistema produtos aptos ao reuso e à reciclagem.

Contudo, a legislação por si só não resolverá o problema. A sociedade também precisa de uma abordagem abrangente para alcançar o aumento da reciclagem de plásticos, e isso significa adotar uma gama completa de tecnologias.

Novas tecnologias para desafios complexos

Atualmente, as tecnologias de reciclagem mecânica processam a maior parte do plástico que é desviado do fluxo de resíduos. Nesse processo, o plástico é lavado, lascado, derretido e transformado em pellets, e então usados para criar produtos novos. Este método é amplamente adotado por sua acessibilidade, eficiência energética e custo-benefício. Novos desenvolvimentos expandiram a gama de plásticos que podem ser reciclados mecanicamente além do tereftalato de polietileno (PET), para incluir materiais mais complicados, como embalagens flexíveis.

No entanto, a reciclagem mecânica tem suas limitações. Certos plásticos são difíceis de processar por meio de reciclagem mecânica, como por exemplo: muitos filmes, materiais mistos e plásticos muito coloridos geralmente não são adequados para reciclagem mecânica. As propriedades físicas do material degradam no processo, e os plásticos reciclados usando esses métodos são adequados para menos aplicações e muitas vezes “rebaixados” para finalidades como a fabricação de bancos de parque, certos tecidos para vestuário etc.

Ao mesmo tempo, a regulamentação restringe o conteúdo de plástico reciclado que pode ser usado para determinadas aplicações, como embalagens para contato com alimentos, que podem exigir esterilização ou descontaminação adicionais antes de serem usadas. Por outro lado, a reciclagem química decompõe os plásticos a nível molecular. De acordo com a Universidade de Ghent, o rendimento de monômeros produzidos no cracker a vapor a partir de óleos de pirólise de plástico reciclado é semelhante ao de matérias-primas de base fóssil.

Desenvolvimentos recentes na tecnologia de pirólise de reciclagem química, indicaram um processamento mais eficaz de resíduos mistos separados em plásticos reciclados de nível alimentar de alta qualidade, que oferecem os mesmos níveis de segurança e desempenho que os plásticos feitos de fontes convencionais (combustível fóssil).

Ao combinar a pirólise com o gerenciamento de contaminantes e a conversão molecular, a Honeywell UOP desenvolveu um processo de pirólise comercialmente viável que transforma resíduos plásticos de baixa qualidade em matéria-prima de polímero reciclado que pode ser usado para produzir novos plásticos virgens de qualidade. A Honeywell UOP UpCycle Process Technology expande o universo de plásticos que podem ser reciclados e os desvia do aterro sanitário ou da incineração.

Colaboração crítica entre reciclagem mecânica e avançada

Crucialmente, os dois processos são complementares e não competitivos. Os resíduos que são adequados para a reciclagem mecânica, o procedimento oferece um método simples e de baixa emissão para devolver os plásticos para uso.  No caso dos plásticos contaminados ou muito complexos, a reciclagem avançada evita que esse material acabe em aterros sanitários ou incinerado. Dessa forma, a reciclagem química pode reduzir radicalmente a necessidade de plásticos virgens e conseguindo construir uma base existente de infraestrutura de reciclagem.

Assim como as duas tecnologias podem trabalhar juntas para nos aproximar da economia circular de plásticos, também é necessária a colaboração entre todas as partes do sistema de gerenciamento de resíduos – conversores, recicladores, processadores, varejistas e fabricantes de bens de consumo.

Um obstáculo importante no avanço da reciclagem de plásticos tem sido as desconexões e inconsistências entre esses atores-chave e suas abordagens para a reciclagem. As capacidades dos recicladores privados e municipais variam muito de acordo com a geografia e a confusão do consumidor sobre quais plásticos podem ser reciclados ou não em seus bairros, cidades ou países.

Sendo um player importante nesse processo, a Honeywell realiza a missão de conectar todos os integrantes para fornecer um caminho mais fácil para a adoção dos mecanismos de reciclagem avançada. Uma vez que a capacidade existe, é vital que todas as partes envolvidas eduquem o seu público consumidor sobre como essas mudanças devem impactar os hábitos de reciclagem e defender as mudanças necessárias nos esforços de coleta. As marcas podem desempenhar um papel particularmente importante na conversa para trabalhar coletivamente e persistentemente para comunicar as transformações nos materiais de embalagem e práticas de reciclagem aos consumidores.

Essa colaboração já está aumentando entre as empresas, trabalhando juntas para expandir as coleções de lojas, varejistas e fabricantes. Há mais trabalho a fazer, é claro, mas o foco também deve se voltar para os consumidores – incentivando-os a reciclar e, principalmente, tornando-o o mais fácil possível, reduzindo barreiras como a necessidade de separar diferentes materiais.

Para fazer isso funcionar e, finalmente, alcançar a economia circular que a indústria, os governos e o público desejam, será necessário o uso de toda a gama de ferramentas e tecnologias oferecidas.

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