Design Hoje!

Por um cotidiano mais humano

Por Nelson Urssi*

Artigo publicado na revista EM+ 10

 

* Nelson Urssi é designer e arquiteto, professor e coordenador do Bacharelado em Design do Centro Universitário Senac, onde é proposto um percurso formativo flexível para conceber profissionais que atendam as necessidades mais importantes do mercado brasileiro de inovação

* Nelson Urssi é designer e arquiteto, professor e coordenador do Bacharelado em Design do Centro Universitário Senac, onde é proposto um percurso formativo flexível para conceber profissionais que atendam as necessidades mais importantes do mercado brasileiro de inovação

Pensar a abrangência do design hoje é compreender a formação das sociedades dos últimos séculos, a produção de bens materiais para a grande massa e a consolidação de mercados de consumo que estruturaram nossas economias. Consideremos também os movimentos de contra-cultura da década de 1960 que provocaram importantes mudanças nas atividades humanas e nas ações dos designers que tiveram que se aprofundar em conteúdos de áreas como antropologia, fenomenologia, filosofia, sociologia, entre outros, como base de reflexão para o exercício de um projeto mais alinhado com as novas características da sociedade. Não bastava mais produzir bens de consumo era preciso dar sentido à vida cotidiana. Este panorama do final do século 20 fez com que o design voltasse o olhar para a construção de toda uma cultura material consolidando um mundo mais afetivo e sustentável, estabelecendo- se assim maneiras diferentes de projetar.

As tecnologias da informação e da comunicação passaram a viabilizar uma produção mais dinâmica e diversa que nos fez adentrar a uma sociedade moldada pela informação e a inteligência. O centro do projeto não está mais no profissional especializado, que tinha a resposta para tudo, mas sim nas relações entre objetivos e destino de um produto ou nas necessidades e serviços a serem atendidos. O designer do século 21 vem atuando como cristalizador a partir de uma formação ampla e compartilhada com os vários agentes do processo projetivo. O produto é o resultado de diversos olhares durante o processo de ideação e projeto, seu propósito é maior que o próprio objeto. Assim o design dessa experiência pressupõe menos em possuir o produto e mais em seus benefícios, e exemplos não faltam. Os smartphones que apresentaram outras formas de se relacionar com a informação, as pessoas e a cidade, serviços de compartilhamento de automóveis e bicicletas, onde viabilizamos outras formas de mobilidade, serviços de locação de imóveis para temporada que permitem uma experiência personalizada ou mesmo a inclusão de conteúdos de design nas escolas de ensino médio e fundamental no aprendizado por projeto tornando a educação uma aventura do conhecimento.

A sociedade de consumo deste século está preocupada com os excessos gerados por nossos modos de vida. A relação que tínhamos com as coisas dá lugar à procura de uma vida mais leve e eficiente. Todo este processo fica claro quando observamos a evolução do design de uma embalagem. O que, no meio do século passado, era proposto como boa embalagem tinha como principal atributo proteger adequadamente o produto, sendo as informações sobre uso e materialidade incluídas como uma forma de diferenciação e merchandising. As embalagens de hoje são o resultado dos diversos níveis de importância presentes em um produto que se inicia pelo contato visual ainda na prateleira ou internet, como a primeira voz do produto, e se desdobra pela ação do desembale, etapas de uso e valores agregados. A embalagem é a criação programada de uma experiência que coloca o produto em um novo patamar de consumo.

O design hoje está articulando novas formas de fazer as coisas, podemos estender sua atuação por todos os processos humanos com dinâmicas de participação, como propõe as metodologias do Design Centrado no Humano (DCH), de produção customizada e individualizada, com a inserção de impressões digitais e desenhos paramétricos, e do uso e análise de informações em volume e variedade (BigData) que permitem um olhar pormenorizado para nossa sociedade. Esta condição triádica do momento contemporâneo – pessoas, modos de produção e informação – inaugura uma sociedade que pode ter maior domínio sobre seu cotidiano e suas necessidades, minimizando as ações predatórias que vimos acontecer durante todo o século passado. Os oceanos que o digam…

Design e designers, a atuação ampla deste profissional de projeto se dá ainda em sua formação, como pessoa, projetista, observador e cidadão. Isto se aprende na vida, isto se aprende na escola. Começa na construção de valores sensíveis da pessoa em si que são complementados pela formação a partir de experiências de conhecimento em que se considera a criatividade, a sociabilidade e o discernimento de se projetar o que realmente é necessário para termos uma sociedade inovadora e nossas cidades mais humanas. Devemos resgatar a essência que queremos no dia-dia, maneiras de se alimentar, maneiras de trabalhar, maneiras de habitar, maneiras de se locomover, maneiras de ter, maneiras de viver… O design hoje está preparado para atender as necessidades únicas que se apresentam e as que estão por vir. Uma condição da vida que nos coloca defronte a existência humana de milhares de anos que agora pode se reinventar.

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