Por Ricardo Sastre*
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Através de uma iniciativa entre a academia e o mercado, foi elaborado um relatório sobre o panorama da polpa moldada no Brasil. Este relatório explora os desafios e oportunidades para a adoção da polpa moldada como alternativa sustentável para embalagens. Apresenta-se aqui uma síntese dos resultados alcançados através deste estudo.
Produzida a partir de fibras celulósicas recicladas ou virgens, a polpa moldada é biodegradável, reciclável e utilizada em mercados internacionais de forma crescente e ampla. Esse cenário ganha ainda mais relevância diante das mudanças regulatórias globais, como a proibição de plásticos de uso único na União Europeia, que entrou em vigor em julho de 2021 por meio da Diretiva (UE) 2019/904, conhecida como diretiva sobre plásticos de uso único.
Além disso, países asiáticos como China, Índia, Japão, Tailândia, Indonésia e Filipinas têm implementado iniciativas nacionais e locais para reduzir ou banir o uso de plásticos descartáveis, reforçando a urgência de alternativas, como as embalagens de polpa moldada.
No entanto, no Brasil, sua aplicação permanece restrita a embalagens de baixo valor agregado, apesar de seu potencial para atender segmentos premium e sustentáveis. A produção de caixas de ovos em polpa moldada se popularizou no Brasil a partir das décadas de 1960 e 1970, a introdução destas embalagens na cadeia de suprimentos foi organizada para atender estas e outras embalagens semelhantes do segmento hortifrutigranjeiro.
Os principais insumos e matérias-primas para a produção de polpa moldada são Celulose (proveniente de madeira, resíduos agrícolas vegetais ricos em fibras, Aditivos (agentes de secagem, conservantes, barreiras contra umidade, agentes de reforço, pigmentos, corantes) e Água.
Baseado na percepção de mercado, as embalagens em polpa moldada podem ser classificadas como convencionais, substitutas e inovadoras. Embalagens convencionais são as embalagens já consolidadas no mercado, trata-se de projetos funcionais e baratos, sem apelo estético, apenas prático, como caixas de ovos, cantoneiras de transporte, embalagens secundárias para logística ou uso industrial etc. As embalagens substitutas trata-se de uma inovação incremental no mercado, em que visa posicionamento sustentável de cadeia logística diminuindo o uso de plásticos de uso único.
Por fim, as embalagens inovadoras propõem novas possibilidades de mercados, uso e design. Junto com apelo de sustentabilidade como redução da pegada de carbono, ciclo fechado de produto (biodegradabilidade e/ou reciclabilidade) e materiais de fontes renováveis. Também propõe benefícios de maior personalização da embalagem, com possibilidades mais amplas de design tais como uso de formas arredondadas, relevos intrincados, cores, estampas, aplicação de beneficiamentos de superfície como foil, verniz, flocagem, rotulagem, uso de componentes extras como metais e borrachas etc.
A polpa moldada está em expansão no Brasil, exigindo investimentos que abrangem insumos, produção de embalagens e grandes marcas influenciadoras. Além de atender à demanda por embalagens substitutivas, esse material apresenta potencial para transformar cadeias inteiras de distribuição, impactando até mesmo setores correlatos, como o de embalagens de vidro. Diferentemente da Europa, onde legislações restritivas impulsionaram sua adoção, no Brasil a pressão do consumidor é a principal força motriz, embora ainda tímida. Para consolidar a polpa moldada, é essencial implementar estratégias robustas de promoção e posicionamento que evidenciem sua sustentabilidade, funcionalidade e design atrativo.
No curto prazo, o foco deve estar em atender demandas imediatas, como embalagens para alimentos, delivery e setores que buscam substituir isopor e plásticos descartáveis. Para o médio e longo prazo, o investimento em inovação será decisivo. Embalagens voltadas para mercados de alto valor agregado, como luxo, cosméticos e eletrônicos, têm potencial significativo. Desenvolver tecnologias avançadas, como barreiras biodegradáveis e polpeamento a seco, e adotar automação sustentável pode ampliar o alcance do material.
A logística reversa é indispensável para integrar a polpa moldada às práticas da economia circular. Sistemas de coleta, triagem e reaproveitamento permitem reciclar e compostar o material de forma sustentável, reduzindo a dependência de novos recursos. A consolidação da polpa moldada no Brasil exige investimentos em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, rastreabilidade e logística reversa. Além disso, estratégias de marketing bem fundamentadas e antecipação às demandas regulatórias podem garantir que essa solução seja percebida como um avanço indispensável para a sustentabilidade e a performance das embalagens no mercado brasileiro.