Por Ricardo Sastre*
No artigo anterior, como fechamento do ano, foi refletido sobre como chegamos até aqui e para onde vamos, abordando sobre o cenário atual da embalagem e as suas projeções futuras. Resgatando o último parágrafo, para o próximo ano o mercado de embalagem continuará crescendo e os desafios estarão contidos no entendimento dos novos recursos virtuais disponíveis e nas soluções efetivas para reduzir impacto ambiental. Arrisco pressupor que os trabalhos autoriais e manuais ganharão força, essa será a diferenciação diante da padronização visual que enfrentaremos com a consolidação da inteligência artificial no design de embalagem.
Continuando essa reflexão, mas com recorte para o design de embalagens, e com o objetivo de tornar mais didático, foi dividido em 3 momentos: o design gráfico, o design estrutural e o design sistêmico de embalagens.
Em relação ao design gráfico, estudos mundiais como o relatório sobre empregabilidade da Unesco publicou sobre um leve declínio desta área, justificado pela entrada de novas ferramentas digitais que estão de certa forma, substituindo o trabalho braçal do design gráfico de embalagens, como o tratamento de imagens, imposição de arquivos, arte final e até mesmo geração de alternativas visuais através da inteligência artificial. Em contrapartida, o trabalho autoral e os fatores humanos serão bem valorizados. As novas ferramentas disponíveis facilitarão o trabalho do dia a dia, mas para isso, o ser humano deverá determinar os objetivos do projeto.
Sobre o design estrutural de embalagens, o foco é continuar desenvolvendo projetos que chamem atenção do consumidor e que atenda aos requisitos dos envolvidos no ciclo de vida da embalagem, principalmente na interação da embalagem com o produto, com o usuário e com o meio ambiente. Embalagens ideais são aquelas que cumprem a sua função causando o menor impacto ambiental possível. Reavaliar projetos existentes e torná-los mais enxutos é uma oportunidade para redução de impacto ambiental e consequentemente a redução de custos.
Por fim, o design sistêmico de embalagens, área nova, impulsionada pelos movimentos de redução de impacto ambiental e para o atendimento do mercado cada vez mais exigente, apresenta uma nova abordagem sobre o design de embalagem. O que era simplesmente uma visão binária de gráfico e estrutural, agora aparece como uma solução completa em todo o ciclo de vida. As soluções sistêmicas apresentam uma abordagem integrativa entre os elementos de cada fase do ciclo de vida e as interações entre elas.
Uma solução integrativa demanda profissionais generalistas de embalagem, que entendam o processo como um todo e proponham soluções assertivas e que atendam todos os anseios dos envolvidos, bem como a priorização de requisitos. As soluções sistêmicas precisam estar livres de uma ou outra solução especifica, descoladas da indústria e incorporada em escritórios especializados para este fim, que avalie de fora todo esse processo e que proponha soluções eficazes.
A partir deste olhar, apresenta-se uma oportunidade em desenvolver profissionais para atuar com este foco. No Brasil não existe nenhum curso superior sobre embalagens, os estudos sobre o tema encontram-se dispersos na literatura e as soluções de mercado estão setorizadas através de estúdios especializados em design gráfico, branding, prototipagem, dentre outros.
Existem inúmeras oportunidades no design de embalagens e as novas ferramentas virtuais podem auxiliar neste processo, porém, a base sobre os fundamentos da embalagem deve estar fortalecida para que essas mudanças se tornem oportunidades ao invés de ameaça.