Por Ricardo Sastre*
Em cada fechamento de ano, costumamos revisar se as metas foram cumpridas e definimos novos desafios para o próximo ciclo. É um rito de passagem, um dia após o outro como todos os outros, porém com uma dose extra de esperança e ansiedade pelo que virá. Corremos para preparar a sua chegada, lhe aguardamos com a casa limpa, as tarefas finalizadas, os clientes atendidos e novos projetos engatilhados. O que esperar para o próximo ano diante deste novo mundo complexo e cada vez mais dinâmico?
Antes de tentar responder esta pergunta, é importante olhar para trás e observar como chegamos até aqui. Entender os ciclos evolutivos da sociedade é importante para replicar ações bem-sucedidas e evitar ações que causaram algum dano para a sociedade e o planeta. Trazendo um recorte para a área de embalagem, saímos das cascas de frutas e estamos indo para a era da inteligência artificial.
Fazendo uma provocação, imaginem se ocorrer um colapso em todas as indústrias, computadores e internet do planeta, certamente recorreríamos para os modelos baseados na natureza para conter, proteger e transportar mercadorias. Certamente passamos por situações temporárias de desligamento do sistema digital, seja através do bloqueio temporário do WhatsApp, falta de sinal em uma estrada ou até mesmo uma catástrofe climática, como a enchente do Rio Grande do Sul que comprometeu por muitas semanas o abastecimento básico na maioria das cidades.
A essência do ser humano é primitiva, ocupamos o planeta desta forma e fomos evoluindo ao longo dos séculos. É importante tirar o plug do mundo digital e colocá-lo no analógico eventualmente para não esquecermos as nossas origens. Neste sentido, a embalagem acompanha a humanidade desde o momento em que a sociedade precisou movimentar mercadorias, com o aumento da população mundial, a embalagem agrega novas funções ao longo dos anos, elevando o seu grau de complexidade.
Faço um pequeno exercício de futurologia baseado em dados e tendências, desta vez a bola de cristal fica de fora. Além do aumento da competitividade e da população mundial, novos materiais e tecnologias estão surgindo para atender os anseios da sociedade, o desafio é ser sustentável, no sentido de se manter ao longo do tempo, sem esgotar os recursos do planeta. As empresas estarão cada vez mais realizando ações para reduzir impactos ambientais, seja através do cumprimento de obrigatoriedades legais, pressão do consumidor ou propósito de marca. Ações efetivamente redutoras de impactos ambientais estarão cada vez mais sendo valorizadas, a área acadêmica recebe destaque neste caso por trazer soluções mais assertivas, baseada em métodos e dados validados e confiáveis.
Assim como a entrada da editoração eletrônica no design gráfico e estrutural de embalagens as quais trouxeram mudanças significativas para o mercado, a Inteligência artificial veio para ficar. Ainda é muito cedo para entender em profundidade este novo ciclo, bem como foi a substituição das canetas de nanquim pelo mouse.
As ferramentas que nos auxiliam na criação de embalagens oferecem recursos para deixar nossa rotina mais leve e dinâmica, porém, existe um risco eminente de padronização, como ocorreu com as fontes Arial, Times New Roman e os efeitos degradê disponíveis em apenas um ou dois cliques. Já é possível identificar rapidamente uma imagem gerada a partir da inteligência artificial, o efeito da padronização visual se repete. Respondendo à pergunta anterior, para o próximo ano o mercado de embalagem continuará crescendo e os desafios estarão contidos no entendimento dos novos recursos virtuais disponíveis e nas soluções efetivas para reduzir impacto ambiental. Arrisco pressupor que os trabalhos autoriais e manuais ganharão força, essa será a diferenciação diante da padronização visual que enfrentaremos com a consolidação da inteligência artificial no design de embalagem. Retornaremos mais uma vez para recursos extraídos da nossa essência!