O Papel Circular: Como o Liner Autoadesivo se Tornou uma Fibra Desejada na Economia Circular

Não nos restam alternativas. Nosso sistema econômico baseado no descarte tem os dias contados, se a humanidade quiser continuar habitando o planeta. Esse redesenho da nossa relação com os materiais e o pós-consumo exigirá uma lupa a ser utilizada em cada projeto de lançamento. Quando falamos de uma transição para a economia circular, como o mundo está discutindo, uma das ciências necessárias na área de projeto é: que material necessito para cumprir as funções do meu produto, e como ele se encaixa no ciclo circular após o fim do uso? Ao utilizar essas lentes, colocamos uma lupa em cima dessa fibra celulósica até então desprezada: o liner, base do autoadesivo. Não precisamos falar de novo sobre a onipresença dos rótulos nas embalagens e na identificação de informações variáveis. Para cada centímetro quadrado rotulado, uma área um pouco maior do que essa é descartada na forma de liner. Hoje, esse montante chega a 1 milhão de toneladas por ano no mundo todo, segundo a Avery Dennison. Isso porque esse papel de alta resistência, desenhado para suportar tração na rotulagem em velocidades cada vez mais altas, não consegue ser reciclado devido à capa de silicone aplicada sobre sua superfície. Ele é um veneno para as máquinas de papel. Mas a Polpel Fibras, hoje a maior operadora de logística reversa dos resíduos do autoadesivo no Brasil, desenvolveu uma tecnologia capaz de neutralizar o silicone e recuperar essa fibra longa de alta resistência. Essa fibra passa a ser desejada quando o mercado começa a pedir índices de fibra pós-consumo cada vez mais altos na composição dos papéis utilizados, sejam eles para fins de embalagens, tissue ou impressão e escrita. Por tratar-se de uma fibra de uso único até então e com um preço competitivo frente à celulose virgem, é uma fibra objeto de desejo para papéis com porcentagem de pós-consumo.

A Bignardi, uma das principais empresas do setor de papel, tem se destacado nessa abordagem inovadora e sustentável na produção. Seu produto, o Eco Millennium, com alta taxa de celulose pós-consumo, adequa-se a esse mercado e a essa transição econômica.

O papel Eco Millenium é multifuncional, produzido agora com percentual de fibras recicladas do liner autoadesivo. Ele possui gramatura para utilização em impressão escrita, mas também para uma variedade de aplicações em embalagens, já que as gramaturas variam de 56 a 240g/m2.

O liner é coletado através da cadeia de logística reversa da Polpel, por onde passa por processos físico-químicos, e enviado para a incorporação na fabricação do papel.

Dentro dos cases circulares já existentes no mercado, os mais difíceis são os chamados de loop fechado: aqueles em que os resíduos são reinseridos no mesmo produto de origem ou no mesmo mercado gerador. Esse é o case inspirador em transcurso. Coletado após as embalagens terem sido rotuladas, o liner autoadesivo retorna na forma de papel de impressão escrita para muitos dos convertedores de rótulos. Os pioneiros a reinserir essa fibra em seus processos são a Prakolar, a Serwir e a Brazicolor. Todos utilizando esse papel para a impressão de suas notas fiscais ou para as impressões de escritório. A própria Avery Dennison, fabricante da bobina autoadesiva, começou a utilizar este papel com fibras oriundas dos materiais que ela comercializa também em seus escritórios.

A expectativa é que este produto não só ganhe reconhecimento, mas que inspire outras empresas a adotarem esta lógica de circularidade.

O caso Bignardi, através do desenvolvimento do papel Eco Millenium, leva a uma discussão da escolha das fibras a serem usadas nas receitas de fabricação: quantas vezes esta fibra já cumpriu alguma função? No caso do liner, uma fibra que, além de ser seu 2o ciclo, confere melhores desempenhos em máquina e requisitos de qualidade nos papéis onde é inserida. Um ranking de reaproveitamento dessas fibras será o cardápio utilizado pelos fabricantes para escolher as características finais do papel, indo buscar soluções para viabilizar a reutilização de materiais que há bem pouco tempo atrás eram desprezados e descartados como resíduos comuns. Um caso para ilustrar como pensaremos o design circular de tudo a partir de agora.

COMENTÁRIOS