Reciclagem química: caminho aberto para circularidade do plástico na indústria de embalagens para alimentos

Por Caio Prado*

*Caio Prado é Líder de Assuntos Regulatórios e Sustentabilidade da SEE

 Os últimos meses trouxeram ventos bastante otimistas para a sustentabilidade no setor de embalagens e de alimentos. Sabemos que não é de hoje que o desenvolvimento de novas soluções de proteção é inerente à busca por alternativas com menor impacto ambiental. Mas, os esforços precisam ir mais além.

Recentemente, a ANVISA aprovou a nova Agenda Regulatória 2024-2025, e incluiu temas como “Regulamentação da Reciclagem de Materiais Plásticos em Contato com Alimentos”. Tal regulamentação visa o acesso seguro a produtos e serviços essenciais para a saúde da população. Além disso, houve também uma atualização na 6ª edição do documento de Perguntas e Respostas sobre materiais em contato com alimentos. O documento incluiu novas questões e trouxe uma atualização importantíssima para o setor:  diretriz para o uso de produtos provenientes da Reciclagem Química na produção de embalagens destinadas ao contato com alimentos.

A Reciclagem Química nada mais é do que a realização de um processo que transforma os resíduos plásticos em insumos químicos, combustíveis ou matéria-prima para a fabricação de novos produtos plásticos. Desta maneira, alguns processos podem promover uma despolimerização parcial e obter oligômeros ou intermediários, como a glicólise. Outros podem despolimerizar ou degradar completamente os materiais de partida para obter monômeros com elevado grau de pureza, como é o caso de uma pirólise, tornando o produto que se origina a partir deste processo um produto muito próximo do plástico virgem.

Sem dúvida, trata-se de um avanço regulatório de grande importância e que tem o potencial de transformar a sustentabilidade da indústria de alimentos daqui para a frente. Afinal, quanto maior a clareza imposta nas resoluções regulatórias, maior também é o incentivo à mobilização para a indústria e para os setores envolvidos, como gestão de resíduos e reciclagem. Essa medida eleva ainda a posição do Brasil na corrida em direção à circularidade do plástico, considerando que em comparação com Europa e Estados Unidos, estávamos atrasados neste quesito.

O processo de reciclagem química abre um caminho importante para a reciclagem dos plásticos flexíveis, que hoje encontram maior dificuldade para entrar na cadeia de transformação. O potencial desse setor é grande! De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (ABIEF), a produção desta categoria é crescente e alcançou 2,224 milhões de toneladas produzidas, uma alta de 2,6% da produção do setor em 2023, em comparação a 2022.

Sabemos que as mudanças não deverão acontecer de uma hora para a outra. Os entraves são tão grandes quando à relevância dos atores envolvidos. Entretanto, o primeiro passo foi dado. Esse é um momento de preparação para que a indústrias possam planejar investimentos e articulações no mercado.

Outro desafio importante é em relação ao setor de cooperativas de reciclagem, que ainda necessita de uma correta orientação sobre as categorias de produtos que podem ser reciclados. Por outro lado, existe um alto potencial econômico na mobilização deste setor, fator que poderá impactar na geração de emprego e renda.

Em conjunto com o planejamento logístico de reciclagem, a indústria de alimentos também poderá se preparar para conversar com seu público sobre o correto descarte das embalagens e o papel fundamental do consumidor nesse processo em prol da circularidade do plástico.

O mais importante é que sigamos otimistas. Nós, como indústria de embalagem, juntamente com as associações de classe, trabalhamos para gerar impacto positivo para o mercado e para a sociedade. E a reciclagem, seja ela mecânica ou química, sem dúvida, terá um papel relevante para isso.

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