O design de embalagem sustentável a partir do projeto

Por Ricardo Sastre e Cristiane Zeni*

*Ricardo Marques Sastre é publicitário, especialista em expressão gráfica e gestão empresarial; mestre em design; doutor em Engenharia de produção e pós-doutorando em Design, pesquisador, consultor e professor universitário
**Cristiane Ferrari Zeni é graduada em Design de Produto e mestranda em Engenharia de Produção pela UFRGS, com intercâmbio acadêmico na Brunel University em Londres. É especialista em desenvolvimento de embalagens e produtos sustentáveis

A embalagem segue um método de desenvolvimento próprio, composto de diversas etapas. Diferentes autores têm tratado do assunto ao longo dos últimos 50 anos, tais como: (Bergmiller, 1976; Brod, 2004; Bucci and Forcellini, 2007; Carvalho et al., 2008; Carvalho, 2008; Dupius and Silva, 2008; Giovannetti, 1995; Grönman, 2013; Gurgel, 2007; Mestriner, 2002; Moura & Banzato, 1997; Negrão and Camargo, 2008; Pereira, 2012). Estes autores propõem nomes distintos para as etapas do projeto, às vezes semelhantes, às vezes complementares. Percebe-se que a maioria dos métodos em suas etapas e sub-etapas não são explícitos quanto às atividades relacionadas à sustentabilidade, mesmo os artefatos desenvolvidos para este fim, como Pereira, (2012), por exemplo.

A tomada de decisão do designer de embalagens é facilitada com métodos que são introduzidos passo a passo e em determinada ordem que também permitirão medidas corretivas por meio de reavaliações no processo de design. Quando se trata de sustentabilidade, é necessário integrá-la em todas as etapas no processo de design. Para isso, antes de iniciar um novo projeto ou melhorar um projeto existente (redesign), a equipe deve entender quais são os reflexos causados pelas embalagens existentes e buscar soluções com o menor impacto possível. Entender quais materiais são os mais críticos em relação a sua extração da natureza e evitá-los. A embalagem deve ser desenvolvida sempre que possível com matérias-primas de fontes renováveis, deve ser mantida em uso pelo maior tempo possível (reuso, recuperação, remanufatura, reciclagem), suportar vários ciclos logísticos reversos e ao final da vida, sempre que possível contribuir com a regeneração de sistemas naturais (compostar).

A complexidade da embalagem no que diz respeito ao seu ciclo de vida, as variações de segmentos, tamanhos de mercado e a diversidade de conhecimentos necessários para projetar embalagens dificultam o profissionalismo neste campo. As grandes empresas possuem departamentos de desenvolvimento de embalagem, compostos por profissionais das áreas de marketing, pesquisa e desenvolvimento, área jurídica, regulatórios e sustentabilidade. Nas empresas pequenas e médias os projetos de embalagem são terceirizados por meio de escritórios de design ou, em outros casos, as soluções são oferecidas pela própria indústria convertedora de embalagem. Entretanto, o sucesso do desenvolvimento de embalagens sustentáveis depende tanto do desenvolvimento tecnológico quanto de considerações relacionadas a formação do profissional responsável pelo projeto da embalagem. Designers de embalagens precisam encontrar e aplicar diferentes perspectivas em relação à sustentabilidade, unindo conhecimentos de diversas áreas para tomar decisões equilibradas (trade-offs) e finalmente chegar à melhor síntese.

Entende-se que um dos pressupostos para a promoção da sustentabilidade em embalagens é conhecer previamente o contexto que envolve o projeto em todas as etapas do ciclo de vida. A partir deste conhecimento e com o auxílio de artefatos e ferramentas norteadoras voltadas para uma visão sistêmica da embalagem e sustentabilidade, os profissionais e pesquisadores adquirem base para o desenvolvimento de novos tipos de conhecimento e consequentemente, projetos com maior assertividade e menor impacto ambiental.

Um ponto de partida fundamental para o profissional da embalagem é buscar boas bases teóricas para combinar com sua experiência prática e, assim, tomar decisões mais assertivas. O referencial teórico para embalagem pertence a distintas áreas de conhecimento, tais como as engenharias, design, comunicação, administração, dentre outras, e geralmente encontra-se disperso na literatura. Portanto, alguns desafios são decorrentes e se apresentam de forma clara: (i) definir uma lista suficientemente abrangente de referenciais teóricos que devam ser considerados no projeto de uma embalagem sustentável; (ii) eleger quais desses referenciais são essenciais e devem ser avaliados em profundidade para um dado projeto/contexto de embalagem; (ii) avaliar as interdependências e conflitos existentes entre os referenciais, analisando como estes impactam o projeto e o desempenho da embalagem; (iv) buscar formas de superar os conflitos incorporando-as na estrutura final da solução da embalagem.  

Neste sentido, surge a necessidade de um profissional responsável pela coordenação e integração do trabalho de projeto da embalagem com foco na redução de impacto ambiental. Em relação às embalagens sustentáveis é importante analisar todo o ciclo de vida e avaliar várias categorias de impacto para evitar a transferência de responsabilidades. Os sistemas de embalagem consomem recursos naturais e energia, geram resíduos e emitem poluentes.

“Desenvolver um novo projeto ou repensar embalagens existentes com olhar atento para o ciclo de vida da embalagem e do produto é o melhor caminho para redução de impacto ambiental”.

Referencias:

Bergmiller, K.H. (1976), Manual Para Planejamento de Embalagens, 1st ed., MIC-STI/IDI/MAM-RS, Rio de Janeiro.

Bucci, D.Z. and Forcellini, F.A. (2007), “Sustainable packaging design model”, Complex Systems Concurrent Engineering: Collaboration, Technology Innovation and Sustainability, Vol. 55 No. 47, pp. 363–370, doi: 10.1007/978-1-84628-976-7_41.

Carvalho, L.R., Merino, G. and Merino, E. (2008), “Sustentabilidade aplicada em projetos de desenvolvimento de embalagens”, II Encontro de Sustentabilidade Em Projeto Do Vale Do Itajai, São Paulo.

Carvalho, M.A. (2008), Engenharia de Embalagens: Uma Abordagem Técnica Do Desenvolvimento de Projetos de Embalagem, 1st ed., Novatec, São Paulo.

Dupius and Silva, &. (2008), Package Design Workbook, 1st ed., Rockport Publishers, Massachusetts.

Giovannetti, M.D. (1995), El Mundo Del Envase: Manual Para El Diseño y Producción de Envases y Embalajes, 2nd ed., Gustavo Gili, México.

Grönman, K. et al. (2013), “Framework for Sustainable Food Packaging Design”, Packaging and Technology and Science, Vol. 29 No. January, pp. 399–412, doi: 10.1002/pts.

Gurgel, F. do A. (2007), Administração de Embalagens, 1st ed., Thomson, São Paulo.

Mestriner, F. (2002), Design de Embalagem: Curso Básico, 1st ed., Pearson Makron Books, São Paulo.

Moura & Banzato. (1997), Embalagem, Unitização e Conteinerização, 2nd ed., IMAM, São Paulo.

Negrão, C. and Camargo, E. (2008), Design de Embalagens: Do Marketing a Produção, Novatec, São Paulo. Pereira, P.Z. (2012), Proposição de Metodologia Para o Design de Embalagem Orientada à Sustentabilidade, Federal University of Rio Grande do Sul.

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