O design de embalagem sustentável a partir do design do sistema de embalagem

Por Ricardo Sastre e Cristiane Zeni*

*Ricardo Marques Sastre é publicitário, especialista em expressão gráfica e gestão empresarial; mestre em design; doutor em Engenharia de produção e pós-doutorando em Design, pesquisador, consultor e professor universitário
**Cristiane Ferrari Zeni é graduada em Design de Produto e mestranda em Engenharia de Produção pela UFRGS, com intercâmbio acadêmico na Brunel University em Londres. É especialista em desenvolvimento de embalagens e produtos sustentáveis

O design de sistemas de embalagem trata do mapeamento de todas as embalagens e acessórios ao longo de uma dada cadeia de valor, assim como os atores e a dinâmica dos respectivos fluxos (insumos, capital, informação, serviços). Este mapeamento contempla o fluxo principal de envase, armazenamento e distribuição, assim como sua relação com os níveis de embalagem e com fluxos paralelos, incorporados a partir de outras etapas do ciclo de vida. Um sistema de embalagem é um conjunto interrelacionado de operações e materiais necessários para mover os produtos do ponto de origem até o de consumo, inclusive maquinários, equipamentos e veículos para seu embarque. Tais relações podem gerar desperdícios de recursos e causar impacto ambiental se não estiverem visíveis durante o processo.

Quando os fluxos de materiais e informações de um sistema embalagem é projetado de forma adequada, alcança-se a eliminação ou mitigação dos impactos ambientais, a equidade e coesão social, além da equidade e justiça econômica. Sob uma perspectiva operacional, a indústria pode economizar recursos por meio da redução de materiais, otimização do espaço, redução de danos e perdas, eficiência na distribuição e incorporação de práticas sustentáveis.

No nível mais elevado, o sistema pode contemplar estratégias que resultem na prevenção do uso de embalagens, como a digitalização de produtos, a servitização nas relações de consumo, o estímulo à economia do compartilhamento, além de inovações sociais e de estilo de vida que possam suprimir integralmente a demanda por embalagens. Neste sentido, em casos em que estratégias orientadas à prevenção do consumo são mais restritas, é possível integrar considerações logísticas e da cadeia de suprimentos no processo de desenvolvimento de embalagens, buscando a minimização e otimização dos recursos, trazendo não apenas benefícios econômicos para as empresas, mas também oportunidades para reduzir os custos ambientais e comerciais e aumentar a eficiência em toda a cadeia.

A embalagem pode desempenhar um papel fundamental, pois há várias interações entre a embalagem e a logística ao longo da cadeia de suprimentos. Ela pode ser considerada como um componente importante na logística, visto que ela adiciona peso e espaço aos produtos durante o manuseio e transporte e facilita a utilização do volume devido à capacidade de empilhamento e a eficiência do manuseio.

Nas estações de trabalho pertinentes à montagem de embalagens e inserção dos produtos a serem transportados/protegidos, é possível obter economia de tempo e custo consideráveis ajustando o sistema de embalagem à situação de montagem em questão e aos componentes. Dessa forma, a embalagem tem impacto direto no uso de energia dos processos de transporte, manuseio e armazenamento, além de influenciar na quantidade de resíduos de produtos ao longo das cadeias de abastecimento. Além disto, apresenta outras funções de grande importância como a de ser papel potencial indutor da educação do consumidor e reforçar a conexão das pessoas à cultura de um território.

“A embalagem deve ser entendida como sendo um sistema

complexo que abrange interações previsíveis e/ou inesperadas

entre suas partes e processos, exigindo, portanto, atenção

permanente sobre o todo e cada uma das suas partes ao longo

do seu ciclo de vida, para que possa ser gerenciada com

eficiência e eficácia”.

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