O design de embalagem sustentável em três níveis de solução

Por Ricardo Sastre* e Cristiane Zeni**

*Ricardo Marques Sastre é publicitário, especialista em expressão gráfica e gestão empresarial; mestre em design; doutor em Engenharia de produção e pós-doutorando em Design, pesquisador, consultor e professor universitário
**Cristiane Ferrari Zeni é graduada em Design de Produto e mestranda em Engenharia de Produção pela UFRGS, com intercâmbio acadêmico na Brunel University em Londres. É especialista em desenvolvimento de embalagens e produtos sustentáveis

O conceito de embalagem sustentável está diretamente relacionado a minimização do impacto ambiental, além disso, pode ser entendido como aquela projetada com materiais recicláveis, com avaliações de ciclo de vida que minimizem a pegada ecológica, o seu impacto social e ambiental. Deve atender aos critérios do mercado para seu desempenho funcional e social, dentro dos limites financeiros aceitos. Neste sentido, reduzir os impactos ambientais provocados pelas embalagens é uma tarefa complexa e multidisciplinar. Por isso, o conhecimento técnico do projetista deve transcorrer por diferentes referenciais teóricos e áreas de conhecimento, pois envolve geometria, desenho técnico, conhecimento sobre materiais, sobre os processos de fabricação da embalagem disponíveis no mercado, além do conhecimento sobre os processos de envase, transporte, armazenagem e descarte.

Sugere-se o desenvolvimento de soluções para minimização de impacto ambiental em embalagens a partir de três níveis distintos: o primeiro, e o mais indicado, é o desenvolvimento de um novo projeto de embalagem sob um olhar sustentável desde o início de sua concepção. O segundo nível, intermediário, ocorre quando a embalagem e os processos já estão estabelecidos, porém, buscam-se oportunidades para a redução de custos e impacto ambiental a partir da análise do sistema de embalagem da indústria de envase. Por fim, o terceiro nível é a ressignificação de resíduos a partir da circularidade, buscando a valorização dos materiais pós-uso.

Entende-se que no primeiro nível, para a promoção da sustentabilidade em embalagens, deve-se conhecer previamente o contexto que envolve o projeto em todas as etapas do ciclo de vida. A partir deste conhecimento e, com o auxílio de artefatos e ferramentas norteadoras para uma visão sistêmica da embalagem e da sustentabilidade, os profissionais e pesquisadores adquirem base para o desenvolvimento de novos tipos de conhecimento e, consequentemente, projetos com maior assertividade e menor impacto ambiental. Sob este olhar, surge a necessidade de um profissional responsável pela coordenação e integração de diversos profissionais e áreas de conhecimento, para que o projeto da embalagem resulte em soluções verdadeiramente sustentáveis desde a origem.

Em um segundo nível, o Sistema de Embalagem pode ser entendido como um conjunto de processos, materiais e tecnologias utilizados para acondicionar, proteger, distribuir e comercializar os produtos de uma empresa. É composto de diversos fluxos entrelaçados, sendo concebido para atender muitos contextos que interagem de formas, muitas vezes, imprevisíveis. Quando os fluxos de materiais e informações são projetados de forma adequada, alcança-se a eliminação ou mitigação dos impactos ambientais, a equidade e coesão social, além da equidade e justiça econômica. Sob uma perspectiva operacional, durante os processos de fabricação e distribuição de mercadorias, a indústria pode economizar recursos por meio da redução de materiais, otimização do espaço, redução de danos e perdas, eficiência na distribuição e incorporação de práticas sustentáveis. Ainda, bons projetos podem substituir ou minimizar a profusão de níveis de embalagens ao longo dos processos logísticos, visto que o tempo de vida útil destas costuma ser curto e nem sempre são produzidas de forma sustentável.

O terceiro nível consiste na ressignificação de resíduos de embalagens gerados no pré-consumo (durante o processo de fabricação, comercialização e transporte), e no pós-consumo (embalagens vazias). Para isso, recomenda-se o uso dos princípios da economia circular que abordam principalmente questões relacionadas ao uso de matérias-primas renováveis, fechamento de ciclos e não geração de resíduos. Quando previamente visualizadas pelo projetista dentro de uma perspectiva sistêmica, as fases do ciclo de vida, geram a oportunidade para se a pensar no fechamento do ciclo de forma sustentável. Neste caso, poderia haver um retorno da embalagem às fábricas e sua reciclagem ou outro procedimento que estenda sua vida útil (reuso, remanufatura). Há ainda a possibilidade de retorno da embalagem ao sistema natural, quando ela for compostável.

Por fim, a embalagem é um componente essencial da cadeia de abastecimento e para ser sustentável deve entregar, acima de tudo, o seu conteúdo ao consumidor em boas condições, evitando o extravio de mercadorias ou o desperdício de alimentos, trazendo informações relevantes, de maneira econômica e conveniente para seus consumidores. A embalagem mais sustentável não é somente a de menor impacto ambiental, é a que minimiza o impacto da cadeia. Por isso, é importante considerar o ciclo de vida da embalagem e do produto como dois sistemas que coexistem de forma integrada e que entregam valor ao consumidor como o resultado de uma série de empresas, processos e pessoas envolvidas ao longo da cadeia.

“Em síntese, recomenda-se desenvolver novos
projetos de embalagens com o
olhar voltado para a redução de impacto ambiental,
repensar sua cadeia de valor e reutilizar ou destinar
os resíduos de forma adequada.” 

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