O surgimento de embalagens de papel em novos mercados de consumo

Por Ricardo Sastre e Ana Cristina Camuzzi*

Todos os anos, uma grande quantidade de matérias-primas é destinada para fabricação de embalagens descartáveis e de uso único. Muitas vezes, são feitas de materiais não biodegradáveis e não renováveis, como plásticos, vidro e metais. Alguns países como o Canadá, Costa Rica e União Europeia proibiram o uso destas embalagens. No Brasil, canudos e sacolas plásticas foram banidos em alguns estados. Durante a pandemia, houve um aumento significativo do consumo de compras online e entrega de alimentos prontos, disparando a utilização de embalagens e geração de resíduos, ao ponto de faltar matéria-prima.

Segundo dados da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE, 2023), o valor bruto da produção física de embalagens no Brasil atingiu em 2021 o valor de R$110,9 bilhões de reais, sendo 37,1% (R$41,14 bilhões) de embalagens plásticas e 31,6% (R$35,04 bilhões) de embalagens em papel. No ano de 2022, o faturamento de produção bruta de embalagens foi de R$123,2 bilhões de reais. O segmento de embalagens plásticas representou 33,6% (R$41,39 bilhões) do total e as embalagens de papel representaram 34% (R$41,88 milhões). Percebe-se uma redução da participação de embalagens plásticas no mercado e um aumento do faturamento das embalagens de papel. 

Acompanhando a tendência de mercado, novos produtos em papel estão sendo oferecidos, como copos para bebidas frias e quentes, potes para sorvetes, canudos e a substituição de algumas embalagens flexíveis. As indústrias de celulose estão investindo em inovação e soluções voltadas para a substituição de embalagens plásticas e no desenvolvimento de novos produtos. Os maiores desafios estão concentrados no processo de selagem, desempenho no envase e na composição de barreiras que mantenham as funções e características das embalagens plásticas convencionais. O setor alimentício é o mais sensível quando a embalagem está em contato direto com o produto, neste caso, pode ocorrer migração e contaminação de substâncias nocivas, a diminuição do prazo de validade, dentre outros problemas. Os órgãos reguladores como a Anvisa, vinculada ao ministério da saúde, fiscaliza e determina as diretrizes em relação à segurança alimentar da população. Implantar uma nova matéria-prima ou uma nova solução pode se tornar uma tarefa burocrática e por vezes demorada.

Algumas marcas globais já estão testando embalagens flexíveis produzidas a partir de celulose, como o caso da Nestlé que lançou uma embalagem de papel para o chocolate KitKat na Austrália; A empresa global Mars lançou um projeto-piloto que substitui as embalagens de plástico por papel reciclável da marca de chocolates M&M’s. A mudança foi lançada em 500 lojas da Tesco, no Reino Unido. No Brasil, a Johnson & Johnson lançou uma linha de absorventes com embalagem externa feita de papel 100% reciclável e os produtos são cobertos por uma camada de bambu e 80% de materiais de fonte renovável.

O excesso de embalagens desafia o desenvolvimento sustentável da nossa sociedade. O que fazer com os resíduos gerados pelas embalagens? Quais as soluções encontradas para minimizar os impactos ambientais? Como distribuir alimentos e bens de consumo para a crescente população do planeta? O plástico contribui significativamente com esta função por preservar por mais tempo a integridade do produto, porém, recomenda-se a utilização de mecanismos assertivos para o desenvolvimento de uma solução com menor impacto ambiental.  

A necessidade de desenvolvimento de produtos que ofereçam sustentabilidade na prática, desde as fases iniciais de design, contribui para a criação de embalagens mais eficientes. A empresa que deseja criar uma embalagem funcional, atrativa e sustentável, deverá se inspirar nos conceitos de sustentabilidade de cada região, no ciclo de vida do produto e em resultados que reduzam o impacto ambiental.

O grande desafio encontrado é conseguir fazer com que a embalagem cumpra todas as suas funções de maneira satisfatória, atendendo a cadeia de stakeholders envolvidos e interligados, contemplando a interação da embalagem com o produto, seu usuário, a indústria convertedora e de envase, com foco em uma solução sustentável que não agrida o meio ambiente.

A transição da economia linear dominante para um modelo baseado na circularidade por intenção e design pode construir uma nova base essencial para a economia de mercado e utilização de embalagens. Em vez de tratar as emissões, os subprodutos e os bens danificados ou indesejados como “resíduos” ou “lixo”, esses itens, na economia circular, tornam-se matéria-prima e insumos para um novo ciclo de produção. Por esta razão, a embalagem deve ser desenvolvida sempre que possível com matérias-primas de fontes renováveis, deve ser mantida em uso pelo maior tempo e contribuir com a regeneração de sistemas naturais.

Ricardo Marques Sastre é publicitário, especialista em expressão gráfica e gestão empresarial, mestre em design, doutor em engenharia de produção e pós-doutorando em design, pesquisador, consultor e professor universitário
Ana Cristina Camuzzi é pós graduada em gestão e estratégia de empresas, com mais de 18 anos de experiência como gestora  de novos negócios nos segmentos de embalagens em diferentes substratos

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