Bom design traz bons negócios

Por Renata Alcantara*

Renata Alcantara é fundadora do Nata Design Estúdio, especializado em estratégia de marcas e embalagens

Brasileiros não são “brand lovers”. E não sou eu quem está dizendo isso: de acordo com um estudo realizado pelo Google neste ano, 64% da população não são fiéis a marcas específicas. Na própria ferramenta de busca, quando analisadas as pesquisas de produtos, apenas 7% são feitas com alguma marca ao invés do modo genérico. Isso significa que, por mais que as grandes empresas tenham um espaço importante no mercado, o público está bastante disposto a conhecer novas alternativas de produtos.

Ainda assim, a competitividade é gigantesca. Destacar-se é uma luta pela qual todos os negócios passam, principalmente os pequenos e médios, ou os que estão surgindo agora. Como, então, chamar a atenção do cliente e aproveitar sua disposição para experimentar novidades?

A resposta é mais simples do que parece: com um bom design.

O design de uma embalagem é o primeiro e mais importante ponto de contato das pessoas com qualquer produto. De acordo com o instituto Point of Purchase Advertising, 74% das decisões de compra são tomadas no ponto de venda. Com base nesse e outros dados sobre o assunto, o Alliance Center for Global Research and Development realizou um estudo sobre o que impacta essas decisões, e chegou à conclusão de que são dois fatores principais: atenção visual e memória. O primeiro é alcançado pelo design e posicionamento na loja ou no e-commerce; o segundo se trata da imagem da marca e de um trabalho constante de brand awareness.

Ou seja: no online ou no presencial, é o visual que vai fisgar a curiosidade do consumidor e fazê-lo conhecer a marca, tudo em questão de segundos. A embalagem conta uma história em um só ato. Ela informa ao consumidor do que se trata o produto, como a marca se posiciona, qual o objetivo daquele item e ainda tem o poder de torná-lo memorável. Com o tempo, as pessoas vão reconhecendo a empresa pelo design e o olho sempre vai automaticamente para onde está familiarizado. Com isso, as lojas e supermercados acabam também priorizando a marca nas gôndolas por perceberem o interesse. Pronto, todo o ciclo de atenção visual e memória está completo.

É importante ressaltar que, exceto pela disposição física em prateleiras e gôndolas, todos esses aspectos também valem para as vendas digitais. E também há uma questão de posicionamento nesse caso, especialmente em marketplaces.

Estratégias que destacam os produtos, tanto nas lojas físicas quanto online, são sempre essenciais. Mas o design é que fará com que esses posicionamentos realmente funcionem, de maneira complementar e integrada. As pessoas não estão mais apenas em um local ou outro — elas estão no presencial e também no virtual. A marca precisa demonstrar consistência e qualidade em todos esses canais a todo momento.

A presença em todos os canais é já conhecida como estratégia omnichannel. É uma forte tendência no varejo; o Think with Google informa que ela gera uma taxa 80% maior de visitas incrementais à loja. Omnichannel diz respeito à integralidade de experiências e comunicação, então faz sentido que o design das embalagens também faça parte disso.

A maior vantagem que todos esses dados e visões apresentam é que não é preciso um grande investimento para que a embalagem cumpra seu papel, auxilie no destaque dos produtos e, consequentemente, no crescimento da marca. É preciso, porém, atenção para o propósito da empresa, para o público em questão e para profissionais criativos que desenvolvem soluções de design relevantes para o consumidor.

Pequenas e médias empresas podem encontrar seu espaço com uma estratégia relevante para seu público. O papel do design é traduzir essa estratégia em um visual autêntico. E quando tudo isso acontece, o sucesso é inevitável.

COMENTÁRIOS