Reator movido a energia solar transforma garrafas PET e CO2 em outras substâncias

Conceito pode incentivar a adoção da reciclagem e reaproveitamento como uma prática comum

Ricardo Mello, líder da Câmara de Descartáveis

Nos últimos anos, a preocupação com o impacto ambiental dos resíduos plásticos aumentou significativamente, levando cientistas e pesquisadores de diversas áreas a se dedicarem à busca por soluções sustentáveis e eficientes.

Com o aumento da produção e consumo de plástico, tornou-se evidente a necessidade de encontrar alternativas que minimizem os danos ao meio ambiente. A contaminação de ecossistemas, a poluição dos oceanos e os efeitos nocivos à vida selvagem são apenas algumas das consequências negativas desse problema que atinge todo o planeta.

Diante desse cenário, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Cambridge deu um importante passo ao desenvolver um reator inovador movido a energia solar capaz de transformar resíduos plásticos e gases de efeito estufa em substâncias úteis.

De acordo com Rica Mello, líder da Câmara de Descartáveis e fundador do projeto Plástico Amigo, o reator separa e converte garrafas PET em ácido glicólico, ao mesmo tempo em que transforma o CO2 em monóxido de carbono. “Essa descoberta promissora representa um avanço significativo no campo da sustentabilidade, oferecendo uma solução em potencial para a redução da poluição plástica e das emissões de gases que prejudicam toda a atmosfera terrestre”, relata.

Segundo o especialista, tanto o ácido glicólico quanto o monóxido de carbono são mais interessantes para a indústria que suas composições originais antes de passar pelo reator. “Enquanto o ácido glicólico pode ser usado como matéria prima por empresas de cosméticos e cuidados com a pele, o monóxido de carbono é transformado em gás de síntese, componente de grande importância na produção de combustíveis líquidos sustentáveis”, pontua.

O fato de o reator funcionar com energia solar é outro ponto de grande valor. “Uma das principais limitações enfrentadas na transformação de plástico em combustível reside na necessidade de atingir temperaturas extremamente altas, deixando o processo caro e pouco viável. No entanto, a energia solar oferece uma perspectiva promissora para superar esse desafio. Ao utilizar esse tipo de tecnologia como fonte de alimentação, é possível tornar a reciclagem mais acessível em larga escala, impulsionando a adoção do reaproveitamento como uma prática comum”, declara Rica Mello.

Dados levantados pelo Programa Ambiental da ONU apontam que aproximadamente 300 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidas todos os anos. No entanto, apenas 9% desse volume é reciclado, enquanto o restante é acumulado em aterros sanitários ou transformado em materiais poluentes nos mares e oceanos.

“No futuro, esse sistema poderá se tornar ainda mais versátil e produzir produtos mais complexos, apenas mudando seu catalisador. Os pesquisadores responsáveis pelo projeto acreditam que o sistema será capaz, um dia, de ser usado para desenvolver usinas de reciclagem movidas inteiramente por energia solar, facilitando processos que eram impossíveis de serem realizados até então”, finaliza Rica.

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