Mariano Iocco*
Extrair, manufaturar, comercializar, utilizar e descartar. Por séculos, a indústria passou por esse processo linear de produção. A mudança não virá de uma hora para outra. Mas, a busca por estratégias de crescimento mais sustentáveis refletidas nas novas políticas de ESG já tem impulsionado ações que visam a transformação de um sistema industrial linear para circular.
E assim, a circularidade tem se tornado pauta recorrente também na indústria de alimentos. Fechar o ciclo de embalagens para este segmento exige uma mudança que vai desde a inovação no desenvolvimento do material de embalagem à consciência de descarte pós consumo, passando por todo um processo de ampliação das operações logísticas e de reciclagem. Por esta razão, é fundamental compreender que a economia circular é viável mediante a uma economia que conta com a colaboração de todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto.
A começar pela indústria. Independente do cenário que se tem em relação ao volume do que é reciclado, é fundamental desenvolver soluções que sejam aptas à reciclagem e à reinserção de plásticos pós consumo na cadeia produtiva. Além disso, desenvolver tecnologias que usem menos material de embalagem também impulsiona a circularidade. Na indústria de embalagens, chamamos de “nível ótimo” aquele que usa a menor quantidade de plástico, por exemplo, e atinge o maior nível de proteção de um alimento.
Um exemplo está nas embalagens termoformadas para proteínas. Hoje já temos embalagens com filme de espessura reduzida que consome até 40% menos de plástico por unidade embalada, fator que oferece aos produtores de alimentos redução de pegada de carbono de até 32% no processo produtivo. Em grandes volumes de vendas, essa redução impacta em menos resíduos no meio ambiente. Solução muito relevante para um cenário de transição como o que vivemos no Brasil, em que ainda não se tem operações de reciclagem em larga escala. Apenas 4% resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são enviados para esse processo, de acordo com Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Entretanto, os números dos últimos anos já nos apontam uma pequena evolução. Um estudo PICPlast – Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico mostrou que a produção de plásticos de origem reciclada cresceu 14,3% em 2021. Inclusive, para a indústria de alimentos no Brasil já é possível encontrar alternativas de embalagem plástica feita com material reciclado, como o poliéster pós consumo, chamado PET- PCR. Soluções como essa possibilitam o fechamento da cadeia produtiva, tornando viável o avanço da circularidade de embalagens na indústria alimentícia.
Acredito muito que o cenário vai continuar sendo transformado à medida que o consumidor também tenha maior consciência de sua parte na economia circular – seja realizando o descarte correto ou mesmo cobrando das empresas e do poder público alternativas sustentáveis e condições para fazer sua parte do ciclo. A própria embalagem já pode contar com um sistema de conectividade e, por meio de um QR code, levar o consumidor a um ambiente de informação sobre o descarte correto específico para aquele produto.
Como indústria, nosso compromisso é inovar sempre com o desenvolvimento de materiais que já chegarão ao mercado prontos para entrarem em um sistema circular de produção, sejam eles reciclados ou recicláveis. Essa tecnologia, em conjunto com a ampliação de políticas e operações de logística reversa e somadas ao trabalho das marcas em torno da consciência do consumidor, certamente nos ajudarão a dar passos mais largos em direção a economia circular.