Embalagens de papelão reciclado são mais sustentáveis do que fibra virgem: fake ou fato?

Por Herlon Ferreira Pires*

*Herlon Ferreira Pires é gerente de Ciência e Inovação da WestRock Brasil

Pensar um mundo sem embalagens é utópico, mas repensar em como utilizamos as embalagens de modo a gerar menor impacto ambiental é imprescindível. Como substituto natural das embalagens plásticas entra em cena o papel. Hoje já encontramos o papel como substrato em caixas para o transporte de líquidos com redução expressiva no emprego do plástico. Essa solução caminha ao lado de estudos e tecnologias em constante evolução.

Entretanto, há uma questão que divide opiniões quanto ao tipo de papel mais eficaz em termos de sustentabilidade para substituição do plástico. Isso acontece porque embalagens produzidas de papel e papelão ondulado podem ser produzidas com papéis de fibra virgem, que são os papéis de primeiro uso, ou papéis reciclados, produzidos a partir de fibras recicladas, ou um mix de ambas.

O pensamento mais fácil indica que as fibras recicladas são mais efetivas para um ciclo ecologicamente correto, mas existem alguns mitos acerca desse tema, e meu objetivo neste artigo é desmistificá-los, já que esse é um raciocínio “parcialmente” correto. Esse mito nasce do conceito de que o substrato reciclado é mais sustentável que o virgem, porém essa premissa só é válida para materiais de fonte não renovável, como aço, vidro e plástico, e que não é o caso do papel, que usa celulose, uma fonte renovável e responsável, para abastecer sua cadeia.

No caso do papel, qual é a maior diferença na prática? Na medida que um dos principais fatores que promovem a qualidade do papelão é a morfologia das fibras presentes em sua composição, quanto mais íntegras são essas fibras, maior será a qualidade do papel. Por isso, como regra geral, quanto mais fibras virgens utilizarmos, mais resistente será a embalagem. Portanto, para obter a mesma resistência, ao utilizar papel de fibras virgens, é necessário menos matéria-prima.

No caso do papel reciclado, além do uso fibras de menor qualidade, há a presença de grande quantidade de produtos químicos necessários para o controle microbiológico e para assegurar o mínimo de resistência dessas fibras e desempenho da embalagem. O resultado é um papel mais pesado e que requer químicos adicionais à cadeia produtiva, frente ao papel de fibras virgens, que proporciona outros atributos sustentáveis ao processo, como menor peso para entrega de um material com maior resistência.

Ao longo do seu ciclo de vida, as fibras do papel reciclado se degradam a cada ciclo de reutilização, até o ponto em que a fibra se torna inviável para produção de papel, o que limita os ciclos de reciclagem em aproximadamente 6 reutilizações. O efeito prático é a necessidade de inserção de fibra virgem para a manutenção desse sistema, já que sem o papel de fibra virgem, o papel reciclado deixaria de existir em um curto período.

Adicionalmente, fábricas de papel de fibra virgem são grandes geradoras de energia para manter suas operações, em muitos casos próximas da autossuficiência, e a partir de combustíveis renováveis, como cascas, galhos e resíduos de sua própria cadeia produtiva. Além de um ciclo altamente eficaz no consumo, tratamento e reuso de água.

Somados os efeitos, o papelão ondulado composto por fibras virgens implica em menor consumo de água, energia, menos material utilizado, menor espaço ocupado no estoque e, por consequência, menos combustível consumido no transporte, com benefícios ambientais em toda a cadeia. Reúnem-se, assim, atributos de maior sustentabilidade, eficiência e alta performance.

Em resumo, o papel reciclado é uma maneira de estender o ciclo de vida desse material e continuará sendo utilizado pela cadeia de embalagens para composição de seus mix de fibras, porém, ambas as fibras são complementares, com a diferença principal de que o papelão ondulado com maior presença de material virgem carrega benefícios associados à sua cadeia, como a remoção de carbono realizada pelas árvores, bem superiores do que aqueles materiais com elevada presença de papel reciclado, situação que os coloca no mesmo patamar de importância como alternativas viáveis ecologicamente.

Não se trata de escolher entre um ou outro de forma binária, mas de avaliar aquilo que é mais pertinente e necessário para cada produto e processo.

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