A Ambipar anunciou hoje (14/6) a aquisição do controle da Boomera, startup referência em economia circular, num movimento que amplia seu portfólio de gestão ambiental para resíduos pós-consumo e dá acesso a parcerias com cooperativas de catadores em todo o Brasil.
Fundada em 2012 por Guilherme Brammer – que seguirá no comando da empresa –, a Boomera nasceu como uma consultoria de pesquisa e desenvolvimento voltada principalmente para o reaproveitamento de resíduos de difícil reciclagem em grandes empresas. Ao longo do tempo, foi verticalizando a atividade para dar conta de toda a cadeia de economia circular dessas companhias, desde a logística reversa até a fabricação dos produtos reciclados a partir dos resíduos, especialmente os plásticos.
Hoje, 80% da receita da Boomera vem da venda de produtos acabados e outros 20% de serviços, como consultoria para empresas e logística reversa.
A empresa tem duas fábricas. Uma é a joint venture com a LAR Plásticos, em Atibaia (SP), que produz resinas recicladas a partir de plástico pós-consumo. Nesse mercado, a Boomera é a fabricante exclusiva de resinas pós-consumo para a Dow e presta serviços para outras petroquímicas, como a Braskem e Basf.
A outra unidade, no Paraná, produz filmes plásticos reciclados a partir de embalagens flexíveis. Seus principais produtos finais são lonas agrícolas, voltadas para a proteção de plantações em fazenda, que duram, em média, cinco anos, enquanto o produto tradicional, produzido a partir de resina 100% virgem, costuma durar apenas um mês.
A mesma tecnologia está sendo usada em um projeto com a Ambev, com uma lona flexível criada para substituir os plásticos de uso único que embalam os packs de bebidas que saem dos centros de distribuição.
Além da capacidade de processar resíduos que antes passavam batido na reciclagem, a Boomera tem como principal ativo sua relação com mais de 500 cooperativas de catadores de materiais em todo o Brasil. O acesso da Boomera a essa cadeia é complementar à oferta de gestão ambiental e serviços de economia circular da Ambipar.
Inicialmente focada na gestão ambiental de indústrias mais pesadas, como cimenteiras e papel e celulose, a companhia vem, desde o IPO em meados do ano passado, reforçando seu portfólio de clientes nos segmentos de bens de consumo, como bebidas e cosméticos, setores em que a gestão do lixo fora das fábricas é ainda mais relevante que dentro delas.
É por meio das parcerias com as cooperativas que a Boomera consegue fazer a logística reversa e ter acesso à matéria-prima que usa nos seus processos de fabricação de produtos reciclados.
Financiada com capital próprio desde a fundação, a Boomera vinha conversando há meses com fundos de investimento para uma captação que desse fôlego para expandir a operação.
Além de reforçar a área comercial, a ideia, apurou o Reset com investidores que participaram do processo, era levantar recursos para ampliar a capacidade das fábricas, além de expandi-las para outras regiões do país. Como não vale a pena transportar o lixo por longas distâncias, é preciso levar as fábricas para perto de onde há oferta de material reciclável.
Mas um dos fatores que fez a proposta da Ambipar sair na frente foi o “sourcing”, dando acesso à Boomera ao lixo das operações industriais operadas pela companhia, que servem de matéria-prima para a produção dos produtos reciclados.
Segundo o fato relevante divulgado na manhã de hoje, o plano de expansão da Boomera para os próximos meses prevê “a criação da oferta de crédito de logística reversa, a utilização de soluções de rastreabilidade ponto a ponto, agregando e compartilhando valor com cooperativas de catadores e materiais reciclados”.
Apesar de a Ambipar ter comprado 50,01% da companhia, a Boomera continuará operando como uma divisão separada e Brammer seguirá como CEO. Os valores da transação não foram divulgados.