O setor de embalagem, no mundo inteiro, há anos passa por um processo de consolidação via M&A (a sigla em inglês para fusões e aquisições – mergers and acquisitions). No Brasil, o movimento de compra e venda anda morno, mas o potencial a ser explorado é enorme.
EmbalagemMarca conversou com a especialista no assunto, Mônica Molina, que é sócia-diretora da Condere, assessoria que já participou de mais de 150 transações de compra e venda de empresas, e que faz parte da Global M&A Partners, um grupo que reúne empresas com perfil similar ao da Condere em outros 33 países. A executiva enxerga nesse tipo de operação boas possibilidades de crescimento para empresas do setor de embalagens, e revela ter alguns mandatos ativos (três deles no Brasil), tanto pelo lado do comprador quanto do vendedor.
Como a senhora avalia o mercado brasileiro de embalagens em termos de seu potencial para crescimento via fusões e aquisições?
Existe uma oportunidade de expansão através de consolidações entre empresas brasileiras, e esse é um caminho positivo a ser trilhado. Pela natureza do setor de embalagem, vejo a necessidade de que os fabricantes tenham plantas em diferentes regiões do Brasil. É preciso ir para onde o cliente estiver. Uma primeira estratégia é a fusão de iguais. Ou seja, uma empresa comprando outra que atua no mesmo setor, buscando complementaridade de tecnologias e de mercados. Faz todo o sentido construir uma operação regional e depois nacional.
Isso, naturalmente, pode seguir avançando para uma internacionalização das empresas, correto?
A internacionalização é um pouco mais complexa. Depende muito de a empresa saber fazer a gestão remota de suas operações fora do país. Precisa ter capacidade tecnológica. Por isso, acho que esse é um segundo passo. O primeiro é crescer internamente.
A senhora acredita que o Real desvalorizado frente a moedas como o Euro e o Dólar pode aquecer esse mercado de compra e venda de empresas?
Acho que, no médio prazo, haverá estrangeiros olhando para o Brasil, mas isso independe da taxa de câmbio. É claro que o real desvalorizado favorece um pouco, mas o compromisso de uma operação desse tipo é de longo prazo. O Brasil tem ativos de primeira linha, e é isso que conta numa decisão de investimento como essa.
E quando é o momento para se pensar em vender ou comprar uma empresa?
Acho que tem muita relação com o projeto de crescimento da empresa. Como já disse anteriormente, olhar para esse caminho como uma forma de expandir nacionalmente a atuação da empresa é um indicativo de que pode ser a hora de comprar ou vender, ainda que parcialmente. O empresário precisa olhar para o ponto em que quer chegar e avaliar se consegue fazer isso, na velocidade desejada, sem um investidor.
E como o empresário brasileiro reage a essa possibilidade? O setor de embalagens caracteriza-se por ainda ter muitas empresas familiares, até com envolvimento emocional com o negócio…
Isso é verdade. Mas a pergunta a se fazer é: você quer fazer sozinho ou fazer acompanhado para chegar onde pretende chegar? A entrada de um sócio com competências para alavancar o negócio é muito positiva. Muitas vezes, as negociações esbarram em questões que parecem bobagem, mas que são preocupações legítimas, até por essa característica do envolvimento emocional com o negócio. O papel da assessoria é achar boas moedas, por assim dizer, para que o negócio seja bom para os dois lados. Existem formas de precificar que não são apenas dinheiro. É também nesse tipo de solução que a gente trabalha para que o negócio saia.
Numa operação de M&A, o que torna uma empresa atraente para um possível comprador?
Não existe uma receita única. Cada empresa tem uma demanda estratégica, e nosso trabalho como assessoria é buscar os ativos que se enquadrem nisso. Mas uma empresa com diversificação de receita é sempre bem avaliada pelos compradores. Diversificar receitas é fundamental. Outra coisa é estar bem posicionado com relação ao conceito de ESG (Responsabilidade Ambiental, Social e Governança Corporativa). Se essas práticas ainda não estiverem estruturadas, é interessante ter um projeto para incorporá-las.
Para finalizar, como a senhora vê o atual momento de crise global, e especificamente a situação do Brasil, em termos de atratividade para esse tipo de negócio?
Existe dinheiro interessado no mercado de embalagens do Brasil, e existem bons ativos por aqui. O contexto, portanto, é positivo. Uma redução no número das operações de M&A registradas em 2020 não significa falta de interesse. O que ocorre é que, nessa situação de incertezas, o dinheiro ficou mais criterioso. Com isso, os processos ficaram mais longos.
Baixe gratuitamente aqui um estudo da Condere (em inglês) sobre tendências no setor de embalagem