ENTREVISTA – Tom Szaky, diretor da Terracycle

“O maior desafio para a reciclagem é a apatia”

Aos 30 anos, o húngaro radicado nos Estados Unidos Tom Szaky é um dos homens de negócios mais famosos do mundo na área de reciclagem. Ele é fundador e principal voz da TerraCycle, companhia que coleta resíduos sólidos não-recicláveis ou difíceis de reciclar, especialmente embalagens, e os transforma em novos produtos – entre eles sacolas, brinquedos, artigos de jardinagem, material escolar. Os resíduos provêm de grupos (“brigadas”) de consumidores voluntários, recompensados com dinheiro que deve ser revertido a instituições de caridade. O mecanismo é sustentado por parcerias com indústrias de bens de consumo. Szaky esteve recentemente em São Paulo para visitar a filial brasileira da TerraCycle – que, em três anos, tornou-se a segunda maior do grupo, perdendo apenas para a matriz americana, aberta em 2001 (há, ainda, operações em outros treze países). O empreendedor concedeu a seguinte entrevista a EmbalagemMarca:

Como o senhor avalia a resposta do mercado brasileiro para os negócios da TerraCycle?
Medimos nosso sucesso em unidades de resíduos coletados. Nessa contagem, o Brasil é nosso segundo posto de maior sucesso, atrás somente dos Estados Unidos. Desde seu lançamento em 2009, as Brigadas TerraCycle no Brasil já evitaram que mais de 14,5 milhões de peças de lixo acabassem em aterros sanitários. Através da recolha e do envio de embalagens de bebidas em pó, pacotes de salgadinhos, embalagens de produtos para cabelos, escovas de dentes, tubos de pasta de dentes e muito mais, estes membros da Brigada arrecadaram quase 200 000 dólares para as escolas e instituições de caridade com a ajuda de patrocinadores como Tang, Pepsico, Garnier e Colgate.

A empresa tem metas específicas para o Brasil em termos de unidades de resíduos coletados, participantes da coleta e dinheiro arrecadado?
Sim. Desde que o programa começou, em 2009, dobramos a quantidade de resíduos recolhidos a cada ano. Nosso objetivo é manter este ritmo de crescimento e continuar a lançar novos programas de Brigada e manter mais fluxos de resíduos fora dos aterros.

Pelo que o senhor vê em outros países, quais seriam os principais desafios para o Brasil quando falamos em gestão de resíduos?
O maior desafio no Brasil é combater o mesmo problema que a TerraCycle enfrenta em todos os países em que opera: apatia. Levar as pessoas a entender por que é importante desviar resíduos de aterros sanitários e motivá-los para realmente fazê-lo são grandes obstáculos. Oferecemos dinheiro para caridade para ajudar os participantes das Brigadas a superá-los. Em um mundo perfeito, as pessoas estariam motivadas a fazer essas coisas sem um incentivo em dinheiro.

O Brasil está na iminência da adoção de uma política nacional de gestão de resíduos. Qual sua opinião sobre essa iniciativa?
A equipe do Brasil e eu já estamos pensando em como atender as demandas da nova política a partir de nosso trabalho. Nossos planos têm sido guiados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. Dou um exemplo. Gostaríamos de começar a trabalhar com cooperativas porque elas estão incluídas na nova política de gestão de resíduos. O fato de que são especialistas em reciclagem é uma vantagem e nos tornaria mais competitivos. Juntos, poderíamos oferecer soluções inteligentes e adequadas para diferentes resíduos.

Qual a lição mais importante que o senhor aprendeu com a TerraCycle?
Desde que comecei a TerraCycle como uma empresa de fertilizante orgânico, em 2001, o modelo de negócios mudou várias vezes. Tive de ser flexível o suficiente para permitir que a empresa crescesse sem comprometer minha visão, minha ideia. Ao seguir aquilo em acreditava, não importa como, fui capaz de navegar a empresa através de todas as voltas e reviravoltas que encontramos ao longo do caminho.

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