Estudo aponta motivações para a coleta seletiva no Brasil

Pesquisa realizada pelo Instituto Recicleiros e Neper/USP, com apoio da SIG, aponta os fatores socioeconômicos que influenciam a adesão da população brasileira à reciclagem

Reciclagem - coleta seletiva

A reciclagem é uma das principais ferramentas para a promoção da economia circular e a proteção do meio ambiente. No entanto, compreender o que motiva a população a separar seus resíduos e aderir à coleta seletiva ainda é um desafio. Para responder a essa questão, o Instituto Recicleiros, em parceria com o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (Neper/USP), conduziu uma das maiores pesquisas sobre o tema. O estudo foi fomentado pela SIG, patrocinadora semente do Instituto Recicleiros.

O levantamento, apresentado e publicado nos anais do 33º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES 2025), analisou a relação entre características socioeconômicas e os principais motivadores para a adesão a campanhas de coleta seletiva em 11 municípios de diferentes regiões do Brasil.

A amostragem incluiu 4.419 pessoas entrevistadas em onze cidades, abrangendo oito estados e quatro regiões do Brasil. O universo populacional da pesquisa representa 672.942 pessoas residentes em localidades onde está presente o Programa Recicleiros Cidades.

“Desde agosto de 2022, o Vox Lab vem conduzindo investigações empíricas e experimentações em campo nos municípios participantes do Programa Recicleiros Cidades, com o objetivo de identificar, de forma sistemática, as barreiras concretas que dificultam a adoção de práticas sustentáveis no cotidiano da população. Nosso trabalho parte da premissa de que a escuta ativa e a observação dos comportamentos reais são essenciais para a formulação de estratégias eficazes para alavancar a reciclagem ética no Brasil. Este artigo representa um recorte parcial do escopo mais amplo da pesquisa, que abrange diferentes dimensões do comportamento da população frente à separação e destinação correta de resíduos recicláveis”, explica a pesquisadora do Vox Lab, Monica Alves, mestre em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental e em Ciências Ambientais.

Realizada entre novembro de 2022 e julho de 2024, a pesquisa envolveu moradores de Caçador (SC), Guaxupé (MG), Garça (SP), Piracaia (SP), São José do Rio Pardo (SP), Três Rios (RJ), Caldas Novas (GO), Maracaju (MS), Naviraí (MS), Serra Talhada (PE) e Cajazeiras (PB). O levantamento foi conduzido pelo Vox Lab, laboratório do Instituto Recicleiros dedicado a estudos sobre mudança de comportamento da população em relação à reciclagem, com a aplicação de um questionário estruturado que considerou variáveis como gênero, faixa etária, escolaridade, renda familiar e localidade dos participantes. Para a análise estatística, foram utilizados o teste de Qui-Quadrado e a correção de Bonferroni, garantindo a robustez dos resultados.

“Na SIG, acreditamos que a transformação dos sistemas de reciclagem passa, necessariamente, pela compreensão do comportamento das pessoas. Por isso, apoiar uma pesquisa com essa profundidade e abrangência nos permite não apenas identificar barreiras e motivações, mas também direcionar melhor nossas estratégias de engajamento social e ambiental. Os resultados demonstram que campanhas de coleta seletiva precisam levar em conta as diferentes realidades do Brasil – e reforçam a importância de iniciativas locais e personalizadas para realmente promover a economia circular”, afirma Isabela de Marchi, gerente de Sustentabilidade da SIG na América do Sul.

Principais resultados da pesquisa

A proteção ao meio ambiente foi apontada como o principal motivo para adesão à coleta seletiva, citada por 50,8% dos entrevistados. Em contrapartida, a contribuição para a renda dos catadores de materiais recicláveis foi o fator menos mencionado, aparecendo em apenas 11,5% das respostas. Outros motivos destacados foram a manutenção da limpeza urbana (17,7%) e a recuperação de matéria-prima (14,1%).

A análise por faixa etária mostrou que os jovens entre 18 e 25 anos são os que mais relacionam a reciclagem com a preservação ambiental, com 56,1% deles apontando esse motivo. Entre os idosos com mais de 83 anos, esse índice cai para 28,6%, enquanto as motivações ligadas à limpeza urbana e à renda dos catadores aumentam para 28,6% e 22,9%, respectivamente. Isso indica que, com o avanço da idade, cresce a preocupação com benefícios locais e sociais da reciclagem.

A renda familiar também demonstrou influência. Entre os entrevistados com renda de até um salário-mínimo, 43,8% citaram a proteção ambiental como razão principal para reciclar, enquanto 22,6% destacaram a limpeza urbana e 14,7% a renda dos catadores. Já entre os que possuem renda entre 12 e 20 salários-mínimos, 60% indicaram a proteção ambiental como motivador, com apenas 4,4% citando limpeza urbana ou geração de renda para catadores.

Em relação à escolaridade, o estudo aponta que quanto maior o nível de formação, maior a consciência ambiental e menor a preocupação social com os catadores. Entre os participantes com pós-graduação completa, 59,2% afirmaram reciclar principalmente pela proteção ambiental, enquanto apenas 3,9% apontaram a renda dos catadores como motivação. Já entre os sem escolaridade, 33,7% destacaram o meio ambiente, 31,7% a limpeza urbana e 18,3% a geração de renda para os catadores.

A pesquisa também avaliou o impacto da localização geográfica e concluiu que não existe um padrão regional consistente. Cidades da mesma região apresentaram perfis de resposta distintos. Um exemplo é Três Rios (RJ), que registrou o maior número de respostas enquadradas como “outros motivos” ou “não sabe/não respondeu”, enquanto Guaxupé (MG) e Piracaia (SP) tiveram os maiores índices de respostas relacionadas à proteção ambiental.

O levantamento sugere que campanhas de conscientização e educação ambiental devem ser personalizadas de acordo com o perfil socioeconômico de cada público, com o objetivo de ampliar a adesão à coleta seletiva.

 

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