Reciclagem é educação, não milagre

Por Rui Katsuno*

Rui Katsuno - reciclagem
Rui Katsuno é empresário e fundador do Instituto Soul do Plástico

Muito se fala sobre a necessidade de o Brasil avançar na reciclagem, e de fato, essa é uma urgência ambiental e social. O que raramente se discute, porém, é que reciclagem não é um milagre, é uma questão de educação. Sem que cada cidadão faça sua parte, higienizando embalagens e descartando corretamente os resíduos, a cadeia simplesmente não funciona. Acreditar que esse sistema pode operar de forma eficiente por si só é apostar em uma ilusão.

Um dos maiores entraves enfrentados pela reciclagem de plásticos no Brasil é a desinformação. Ainda persiste o mito de que o plástico não é reciclável. Isso não é verdade. Trata-se de um material 100% reciclável, moldável e extremamente útil. O problema está na forma como ele é tratado, o que poderia ser matéria-prima valiosa e fonte de renda para milhares de famílias é, muitas vezes, taxado genericamente como “lixo”.

Narrativas alarmistas contribuem para essa distorção. Discurso como “o plástico vai acabar com os oceanos” ou “é inevitavelmente tóxico” espalham medo, mas não oferecem soluções reais. Pior ainda, favorecem materiais supostamente mais sustentáveis, que muitas vezes contam apenas com mais verba de marketing e não necessariamente com menor impacto ambiental.

A educação ambiental é o verdadeiro ponto de virada. No Instituto Soul do Plástico, o foco está em transformar esse discurso em prática. Por meio de ações em escolas públicas e comunidades, o Instituto mostra como é possível reciclar plástico em microambientes, utilizando energia limpa e sem desperdício de água. Mais do que palestras, a proposta é colocar as mãos na massa, na vivência.

Alunos operam os equipamentos, observam o processo e compreendem, com seus próprios olhos, o ciclo da reciclagem. A maioria dos estudantes se surpreende e entende que o plástico não é o vilão. Percebe que, quando tratado da forma correta, pode ser peça-chave na geração de renda e inclusão social. É essa consciência, crítica e prática, que o Instituto busca multiplicar.

A responsabilidade, no entanto, não é só da população. A indústria, o setor público e o poder legislativo também precisam fazer sua parte. Felizmente, iniciativas como o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o programa Recicla Brasil e a Frente Parlamentar da Economia Circular, já apontam caminhos concretos. O grande desafio é acelerar a transição do modelo econômico linear, baseado em produção, consumo e descarte, para um modelo circular, onde não haja mais desperdício.

Outro ponto que exige atenção é o combate ao discurso da proibição sem diálogo. Algumas organizações defendem a extinção de determinados produtos plásticos sem apresentar dados sólidos ou alternativas viáveis. Enquanto isso, o setor do plástico, que movimenta a economia e sustenta milhões de famílias, continua sendo demonizado.

Separar o lixo é só o início. Um bom início, sem dúvida. Mas para que o ciclo se complete, é preciso entender que o resíduo reciclável, ao ser limpo e descartado corretamente, se transforma em matéria-prima e, mais que isso, em dignidade e sustento para quem vive da reciclagem.

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