A reciclagem de embalagens no Brasil: cenário, importância e desafios

Reciclagem de embalagens

A reciclagem de embalagens no Brasil é um tema de crescente relevância, impulsionado por imperativos ambientais, sociais e econômicos. Embora o país apresente avanços notáveis em alguns materiais, o cenário geral é complexo, com disparidades entre os setores e a persistência de gargalos que impedem um progresso mais significativo. A transição para uma economia circular depende diretamente da eficiência e abrangência do sistema de reciclagem.

Cenário da reciclagem por material no Brasil

O Brasil demonstra um desempenho variado na reciclagem de diferentes tipos de embalagens:

  • Latas de alumínio: Este é o setor de maior sucesso, com o Brasil consistentemente atingindo um dos maiores índices mundiais. Em 2021, 98,7% das latas de alumínio comercializadas foram recicladas. Em 2022, o índice de recuperação chegou a 100%. Este material é 100% reciclável e possui um ciclo de vida curto (aproximadamente 60 dias para ser coletado, reciclado e reintroduzido no mercado).
  • Plástico (Poliolefinas e PET): A reciclagem de plástico pós-consumo no Brasil é um desafio maior. O índice geral de reciclagem de plástico pós-consumo no Brasil é de aproximadamente 23% a 25,6%. Dentro das poliolefinas e PET, os números variam:
    • PET (Polietileno Tereftalato): A reciclagem de embalagens PET cresceu, atingindo 410 mil toneladas em 2024. O índice de reciclagem para embalagens PET (alimentos/bebidas) foi de 37% em 2024, superando os 29% registrados anteriormente, impulsionado por grandes empresas de bebidas.
    • Poliolefinas (PEAD, PEBD, PP): Em 2021, os índices de reciclagem de plásticos pós-consumo específicos eram: PEAD (Polietileno de Alta Densidade) 29%, PP (Polipropileno) 20,3% e PEBD (Polietileno de Baixa Densidade) 10,6%.
  • Papel e papelão: O papel e papelão apresentam uma boa taxa de recuperação no Brasil, estimada em mais de 87% de todo o papel consumido, equivalente à média mundial. Cerca de 70% das embalagens de papelão ondulado são produzidas com fibras recicladas. A reciclagem de papel é considerada um exemplo de sucesso na economia circular, sendo que quase metade do papel reciclado é usado para fazer novas caixas de papelão.
  • Latas de aço: As latas de aço também são 100% recicláveis e têm uma reciclagem consolidada globalmente. No Brasil, cerca de 47% das latas de aço pós-consumo foram encaminhadas para reciclagem em 2019.
  • Vidro: Apesar de ser um material 100% reciclável e com potencial infinito de reciclagem, o vidro é o material com a menor taxa de reciclagem efetiva no Brasil. Em 2022, o vidro representou apenas 17% do total de materiais recicláveis que voltaram ao ciclo produtivo no país. Obstáculos na logística reversa e no comércio do material dificultam seu retorno à cadeia.

 

A reciclagem transcende a mera gestão de resíduos, sendo fundamental para o desenvolvimento sustentável do país:

Preservação ambiental: Reduz a necessidade de extração de matéria-prima virgem, conservando recursos naturais finitos, protegendo ecossistemas e a vida selvagem. Diminui o volume de resíduos enviados para aterros sanitários e lixões, evitando a contaminação do solo, da água e do ar, e prolongando a vida útil dessas instalações.

Redução de emissões de carbono: O uso de materiais reciclados na produção industrial geralmente consome menos energia e gera menos emissões de gases de efeito estufa em comparação com a produção a partir de matérias-primas virgens.

Geração de emprego e renda: A cadeia da reciclagem, especialmente através dos catadores de materiais recicláveis, é uma importante fonte de trabalho e renda, contribuindo para a inclusão social e o desenvolvimento de comunidades. Estima-se que mais de 800 mil catadores atuem no Brasil.

Conscientização ambiental: Ao engajar a população no descarte correto e na coleta seletiva, a reciclagem fomenta uma maior consciência ambiental e responsabilidade cidadã.

Para a indústria:

Economia de custos: O uso de matéria-prima reciclada pode ser mais barato do que a virgem, reduzindo os custos de produção para as indústrias.

Segurança no fornecimento de matéria-prima: A reciclagem cria uma fonte secundária de materiais, diminuindo a dependência de recursos naturais e garantindo a estabilidade da cadeia de suprimentos.

Competitividade e inovação: Empresas que investem em reciclagem e embalagens sustentáveis ganham vantagem competitiva, atendendo à demanda crescente dos consumidores por produtos ecologicamente responsáveis e inovando em seus processos e produtos.

Melhora da imagem da marca: A adoção de práticas de reciclagem e sustentabilidade melhora a reputação e a visibilidade positiva das empresas perante o mercado e a sociedade, alinhando-se à agenda ESG (Environmental, Social, and Governance).

Criação de novas frentes de negócio: A reciclagem estimula o surgimento de novas empresas e modelos de negócio focados na coleta, triagem, processamento e comercialização de materiais reciclados.

Principais entraves e gargalos para a melhoria da reciclagem

Apesar da importância e dos esforços, diversos fatores ainda impedem que os números da reciclagem no Brasil atinjam seu pleno potencial:

  • Insuficiência da coleta seletiva: Este é o maior gargalo. A cobertura da coleta seletiva no Brasil ainda é limitada e ineficiente na maioria dos municípios. Apenas uma pequena porcentagem das cidades possui programas de coleta seletiva formalizados e com adesão significativa da população. A falta de acesso e a irregularidade da coleta desestimulam o engajamento dos cidadãos.
  • Infraestrutura precária e tecnologia insuficiente: Muitos centros de triagem operam com infraestrutura defasada e pouco mecanizada, dependendo excessivamente do trabalho manual. Isso resulta em baixa qualidade do material triado, com altas taxas de impurezas e rejeito, dificultando sua reinserção na indústria. Há necessidade de investimentos em tecnologia para triagem e processamento mais eficientes.
  • Logística reversa desarticulada: Embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) exija a logística reversa, sua implementação prática ainda enfrenta desafios. A falta de adesão de algumas empresas e a complexidade de criar sistemas eficazes de retorno das embalagens pós-consumo são obstáculos.
  • Valor da matéria-prima virgem: Em muitos casos, o preço da matéria-prima virgem ainda é mais baixo ou competitivo do que o do material reciclado, desincentivando o investimento em reciclagem e a compra de insumos secundários pela indústria.
  • Complexidade das embalagens: O uso crescente de embalagens multicamadas ou compostas por diferentes tipos de materiais dificulta o processo de separação e reciclagem, tornando-o mais custoso e tecnicamente complexo.
  • Falta de conscientização e engajamento da população: Embora haja um aumento na preocupação ambiental, a adesão individual à separação de resíduos em casa e à participação na coleta seletiva ainda precisa ser ampliada. A descrença na efetividade do sistema também é um fator.
  • Condições de trabalho dos catadores: A atividade dos catadores, essencial para o sistema de reciclagem brasileiro (responsáveis por uma grande parte do material coletado), muitas vezes ocorre em condições de precariedade, insalubridade e sem o devido reconhecimento, afetando a eficiência e a dignidade de sua labor.

Superar esses entraves exige um esforço conjunto e coordenado entre governo, indústria, setor de reciclagem e sociedade civil. Somente com políticas públicas mais robustas, investimentos em infraestrutura, tecnologias inovadoras e uma maior conscientização da população, o Brasil poderá transformar seu potencial em um modelo de sucesso na reciclagem de embalagens.

 

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