A falta de acessibilidade é um problema que nem todo mundo vê. Imagine que você entra em uma loja procurando um lanche. Você está tentando decidir o que comprar, mas todos os sanduíches estão em caixas de papelão simples, sem janelas, e todas as batatas fritas estão em sacos plásticos comuns. Não há nenhuma informação escrita em lugar nenhum. Você pede ajuda a um vendedor, mas ele parece não entender qual é o problema. Você se sente frustrado e isolado, quando tudo o que queria era pegar um lanche rápido.
Pode parecer absurdo para muitas pessoas, mas para aqueles com certas deficiências, essa experiência frustrante pode soar bastante familiar. Tão familiar, na verdade, que a RNIB – Royal National Institute of Blind People, uma instituição de caridade para cegos do Reino Unido, transformou o conceito em uma campanha de inclusão, projetada para conscientizar sobre os desafios enfrentados por compradores cegos em todo o mundo diariamente.
Pode-se argumentar que esse problema é causado por embalagens e rótulos inadequados. Para Daphne Mavroudi-Chocholi, diretora Geral da RNIB Enterprises (um braço da RNIB), isso significa que está ao alcance da indústria de embalagens resolver o problema. “83% das deficiências são adquiridas”, diz ela. “Talvez você tenha sofrido um derrame ou um acidente, ou perceba que sua visão está se deteriorando devido à degeneração macular relacionada à idade. Portanto, quando projetamos produtos e experiências, é importante projetar para todos. Porque esse pode ser o nosso futuro”, afirma Daphne.
“Eu entendo que o marketing é crucial e que as marcas precisam lidar com muita concorrência nas prateleiras. Mas se a embalagem não for acessível, todo o esforço e pensamento investidos na diferenciação, na inovação e na promoção da sustentabilidade desaparecem imediatamente quando o consumidor não consegue decifrar se está comprando sal ou açúcar.”
A RNIB Enterprises trabalha com empresas de diversos setores para ajudar a tornar seus produtos mais acessíveis, seja por meio da educação ou da colaboração em design. As recompensas de fazer isso, diz ela, falam por si. “Embalagens inclusivas são uma grande oportunidade para uma organização. Quando projetamos com a acessibilidade em mente, construímos produtos melhores, embalagens melhores e experiências melhores para todos.” Como os fabricantes estão redesenhando as embalagens para serem mais sustentáveis, há uma grande oportunidade de voltar e projetar para todos.”
Daphne se esforça para ressaltar que “acessibilidade” não é algo que pode ser adicionado a uma solução existente, como um adesivo ou uma etiqueta. É uma ideia que precisa ser projetada na embalagem do zero, representada por cada elemento do produto final.
“Na minha experiência, é extremamente caro quando você tenta implementar a acessibilidade como algo secundário”, ela argumenta. “Você pode colocar um código QR na embalagem, mas se ele não for realmente encontrável, você já ‘correu a corrida’, mas não terminou. É preciso haver algum mecanismo que conscientize as pessoas sobre esses recursos para que você possa orientá-las a chegar lá.”
Não existe um roteiro sobre como é ter deficiências visuais relacionada à idade. “Portanto, os designers de embalagens precisam envolver pessoas com experiência de vida e realmente ouvi-las para entender quais são as principais barreiras. Uma coisa é ler em um pedaço de papel, mas é muito diferente vivê-la”, ressalta Daphne.
Embora o desenvolvimento de embalagens mais inclusivas seja um processo contínuo de aprimoramento, é importante reconhecer os enormes avanços que o setor já alcançou. Com gigantes do varejo, como a Amazon, tornando a embalagem “sem frustração” um pilar fundamental de sua estratégia de negócios, as embalagens agora estão mais fáceis de interagir do que nunca, graças à disseminação de inovações como impressão em braile, designs de QR code de alto contraste e fitas adesivas de fácil abertura.
Segundo Daphne, cabe à indústria de embalagens encontrar as respostas para essas questões.
